O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, abril 06, 2018

A MULHER A CHAVE DO MITO



“A Procura do Graal mistura-se com a Procura da Mulher. Aquele que encontra a Mulher, encontra o Graal. (...)
Mulher que segura a Taça, o Cálice ou a Pedra, essa mulher que é a Sacerdotisa de um culto do qual jamais conheceremos o verdadeiro significado." J.Markale

"Uma coisa é certa: mais uma vez, nos encontramos na presença de uma memória do culto da antiga deusa, destronada pelos deuses machos: é o sentido da violação cometida pelo rei Amangon contra uma das donzelas ou fadas do castelo do Graal. Amangon forçou o destino, curvou o poder feminino pela força cega e brutal do macho, derrubando a sua soberania sob a forma simbólica do seu golpe. Com efeito é o Pai que acaba de instaurar a sua autoridade exclusiva. Desde esse tempo, a sociedade anda à procura de um equilíbrio que não poderá instaurar senão quando o Jovem filho da Deusa Mãe, vier matar ou castrar, ou eliminar o Pai, a fim de devolver à Mãe a sua Soberania de antigamente.

Assim, idealmente e miticamente, e muito antes da cristianização do mito, a Procura do Graal é, ela, a Glorificação da Eleita, a mulher eterna, divina, de múltiplos aspectos, que reina nos subterrâneos do mundo, e que não espera senão pelo o seu filho mais jovem para reaparecer ao ar livre e retomar o seu título de Grande Rainha equilibrando de novo a sociedade dos seus filhos desunidos e que se reconciliar no amor da Mãe.” (...)  J. M. In “A Mulher Celta”

Que Mulher é essa que se confunde com o Graal?

Não é certamente a Mulher perdida da própria mulher, submetida às instituições e dominada pelos homens como um objecto de uso pessoal e social que nada tem a ver com a Mulher Divina ou a Musa, mulher essencial porque mágica e fada, detentora de sortilégios e poder de curar, aliada da natureza e dos animais! Nem a mulher violada secularmente pelo poder patriarcal que destitui a Deusa Mãe e fez da sacerdotisa uma prostituta e da mulher livre “a casada” e portanto, sujeita às suas leis, nem da "bruxa" queimada pela Inquisição por usar um dom inato e que fazia perigar o poder dos fanáticos cristãos?
Pervertendo a Génese, os patriarcas da Igreja, inverteram os sentidos da criação, traindo a harmonia dos princípios, dizendo que “Eva foi criada a partir de uma costela de Adão. A mulher converteu-se assim num apêndice do homem. A Génese é o princípio e o fim da Deusa.”

Dando assim força e suportando a história de uma metade da humanidade-homem que dominou a outra metade mulher, condenando o mundo a um permanente desequilíbrio, pela dominação do princípio masculino pela força da espada e da guerra com a repressão e subjugação da Mulher e da sua liberdade. A história dos conquistadores sacerdotes-guerreiros, bárbaros vindos das estepes, que destruíram paulatinamente um mundo equalitário, harmonioso e pacífico da Deusa-Mãe, segundo Riane Aisler, gerando “monstros - homens destinados à guerra e mulheres escravas e concubinas para os servir. Mais tarde ao ser institucionalizada a Igreja de Roma só lhes deu a sua benção, aliando-se a eles, bárbaros, até aos nossos dias...

Por isso “O Gral - simboliza a Deusa perdida. Quando apareceu o cristianismo, as antigas religiões pagãs não desapareceram da manhã para o dia. As lendas da busca dos Cavaleiros do Graal perdido eram histórias que explicavam as andanças para recuperar a divindade feminina. Os cavaleiros que diziam partir em busca do “Cálice”, falavam em “chave” para proteger-se de uma Igreja que tinha subjugado as mulheres, proibido a Deusa, queimando os crentes nas fogueiras e censurado o culto pagão da divindade feminina. “

É tempo de unir os dois princípios, pólos complementares desta humanidade, dentro e fora do Ser Humano, de unir o feminino e o masculino, de unir a deusa e o deus que os bárbaros e a Igreja desuniram para dominar e vencer pela guerra! Para isso a Mulher tem de se unir e integrar as duas mulheres que foram cindidas em duas - a santa Virgem e a Mª Madalena a "prostituta arrependida" - assim divididas pela Igreja sua maior inimiga desde o princípio dos séculos.
Esse Feminino eterno e parte do princípio que rege o universo é rechaçado e denegrido ao longo dos séculos destituindo a mulher de identidade por predominância exclusiva do princípio masculino da força e do autoritarismo, negando às sociedades esse equilíbrio dos dois princípios em harmonia que a Deusa Mãe impunha como justiça e lei e não a força da Espada!

A mulher moderna, perdida da sua origem e essência, é uma espécie de apátrida sem sentimentos ou consciência própria. Absorve, diz e escreve e sente-se como o homem a fez...é a polícia travesti, é a médica inumana, é o soldado que vai à guerra é a mãe sem coração nem amor pela maternidade! ? uma Atenas saída da cabeça de Zeus ao serviço do patriarcalismo sem consciência nenhuma de si própria em profundidade. Reflecte-se apenas no homem na sua posse ou possuída e não é senão uma sua extensão, um sexo. Falar de feminino, pela sua ausência de sentido profundo, é falar apenas de sexo e a confusão inerente estabelece-se. Ou se é feminista ou lésbica...

Mas a mulher não é apenas um sexo!
Todavia, como se desconhece em essência e se sente perdida de si mesma, educada e suportada em sociedades falocráticas, não têm nenhum sentido em si mesma ou centro e enche-se do valor que os homens lhe dão que é o de uma mente racional atulhada de conceitos lógicos onde prevalece tacitamente a superioridade do Homem em nome de quem ela fala. Acontece cpom as mulheres mais inteligentes, as universitárias etc. Elas falam exclusivamente do seu ciclo vicioso As Faces de Eva, desconhecendo a outra Mulher que vive na Sombra e que foi renegada da história e do seu interior...Por essa ignorância a mulher está presa num ciclo vicioso que é o conhecimento adquirido que a sociedade falocrárica lhes impôs e de que elas não conseguem sair sem ir às origem da própria pré-história...onde efectivamente começa a sua história ou o poder da Grande Deusa onde todos os mitos têm origem.
 
A GUERRA CONTRA AS MULHERES...

A história da Mulher não é apenas a de uma “lavagem ao cérebro” mas a de uma lavagem às suas entranhas da maneiras como lhe tiraram a Voz de Oráculo da Terra Mãe e agora o Útero sob qualquer pretexto. Anula-se a mulher dos seus valores intrínsecos, da sua intuição e percepção extra-sensorial, da sua sensibilidade tão própria aliada à emoção e reduz-se a sua razão de ser a uma reprodutora com prazo de validade ou a um objecto de luxo e plásticas, o estereotipo do travesti que o homem inventou e que levou a mulher a identificar-se com essa imagem e de que os jornais e revistas e televisão estão cheios até á saturação. A mulher é imbecilizada a cada passo e as próprias mulheres hoje em dia não têm a menos noção ou respeito pelo seu SER Ancestral, por essa Voz secular que lhe foi roubada pelos padres!

A sua cultura ou erudição baseia-se toda no princípio masculino que a reduz a um zero à esquerda (e à direita!).
E não tenham esperanças as mulheres que lhes reste ainda alguma verdade e dignidade própria de que serão aceites se se expuserem nesta sociedade machista e falocrática com uma voz genuína senão for para os servir e fazer de figura de estilo, quer como mulheres, quer como políticas, ministras ou executivas ou mesmo escritoras! As polícias são brutais como os machos e as ministras duríssimas e inflexíveis nos seus propósitos rígidos sem qualquer humanismo. Não é pois, desse “Feminismo” que falamos nem o que nos falta a nós mulheres. E muito menos é essa a mulher da Procura do Graal. Ou por outra, a Mulher que se perdeu nos primórdios dos tempos é que tem de se buscar a si mesma dentro do seu coração e como Voz do Útero sendo a Taça que dá a beber e não espera beber do outro para ser ela própria porque a mulher é ela o Cálice.

Só depois da Mulher ser Mulher inteira, o verdadeiro Cavaleiro voltará e o Filho da Deusa a respeitará.

A Mulher em si é a Chave do Mito.


Rosa Leonor Pedro

(republicando)


 

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