O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, março 11, 2018

A noção de propriedade...



Os homens receavam o prazer das mulheres...

"A noção de propriedade, de "ter", começa nessa apropriação sexual: os homens "têm" mulheres, parte corpo que lhes falta para poderem "ter" filhos.
O que se passou nessa longa noite humana, que nós tentamos sondar, que as mulheres nos descreviam?
As máscaras caíram, e o luar entrou nas tendas, nas cabanas, nas casas. As mulheres viram as faces dos homens: podiam ser (eram) seus filhos.
A compaixão não era oposição: com-paixão. Mas os homens rejeitaram-na.
- Precisamos nos inscrever no real, não poderemos limitar-nos a inscrever-nos no corpo das mulheres.
De manha, os homens desviaram os olhos. Como poderiam eles encarar as mulheres que tão completamente os tinham amado?
O que aconteceu nessa longa noite?
- Porque tornaste necessária a dor, em vez do prazer? - perguntou a mulher.
Foi escolhida a configuração que deu origem á submissão matrimonial, á prostituição e ao sadismo.
Foi escolhida a configuração que valoriza a força física, fantasmática, esforçada, simbólica. Os homens trabalhavam as terras, os homens passaram a ter os instrumentos, os homens passaram a estar armados - contra as mulheres, uns contra os outros.
Foi escolhida, dessa longa noite de luta e de amor, de produção de uma nova espécie, a configuração que baseia o chamado casamento monogâmico: que não é um acasalamento entre uma mulher e um homem, mas uma relação entre dominador e dominada.
Os homens disseram: o prazer clitoridiano não serve para nada; nem as carícias nem os gestos sensuais.Tudo isso é excessivo, e ilegítimo. Descobriram a paternidade.
Os homens receavam o prazer das mulheres.
Como podiam aceitar a junção de um prazer "gratuito", com a relação de produção de crianças, seu esforço recém descoberto?
A mulher banhada em lágrimas velou o rosto.

In "A Morte da Mãe" de Maria Isabel Barreno

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