O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, janeiro 15, 2018

A POESIA



SEM A MULHER MUSA NÃO HÁ POETAS...


"Assim que as formas poéticas começam a ser utilizadas por homossexuais e que o “amor platónico” (o idealismo homossexual) se introduz nos costumes, a deusa vinga-se. Sócrates, se bem nos lembramos, teria banido os poetas da sua lúgubre república. A alternativa consistindo a passar sem o amor da mulher é o ascetismo monástico; os resultados que daí advieram foram mais trágicos do que cómicos. No entanto a mulher não é poeta: ela é a Musa ou nada. Isto não quer dizer que uma mulher deveria abster-se de escrever poemas, e sim apenas que ela deveria escrever como mulher, e não como se fosse um homem.
O poeta era originalmente o Místico ou o Fiel em êxtase da Musa, as mulheres que participavam nos seus rituais eram suas representantes. (...) " - Roberte Graves


...este excerto revela-nos o absurdo que do homem que escreve poesia sem a musa e sem a inspiração de uma mulher deusa, de uma mulher amada e também nos diz como é absurdo a mulher escrever para o homem, erotizando o homem fazendo dele seu "muso", coisa que nunca existiu na história. É um facto que é a mulher que é a inspiradora do poeta, como mãe, dadora da vida,  como amante ou deusa-mulher, é ela que é o objectivo da Obra alquimica e da Busca do Graal - ela mesma é o Cálice ou o Graal, a Dama ou a Rainha. Da mesma maneira se for a mulher a escrever poesia ela deve-se cantar a si como mulher...e não eleger o homem...isto pode parecer bizarro, numa visão meramente sexualizada do amor...e como é próprio de um tempo desnaturado  estamos sempre a pensar mais na sexualidade em si do que na Natureza instintiva das coisas, nas energias e nos princípios que nos movem - ora é o corpo da mulher que é erótico e deve atrair-seduzir o homem e não o homem a mulher. É verdade que ao perder-se a Mulher mítica com o tempos e a aculturação da mulher e a perda da sua identidade primeira,  tornou-se vulgar a ideia do homem possuir a mulher ou conquistar a mulher e não ser ele seduzido pela Mulher o que corresponde a  uma inversão grosseira que é fruto da nossa época na sequência do culto do amor apolíneo grego ou romano, o culto da homossexualidade e pelo desprezo a que as mulheres foram votadas.
Assim, como diz R. graves, "a mulher não é poeta: ela é a Musa ou nada. Isto não quer dizer que uma mulher deveria abster-se de escrever poemas, e sim apenas que ela deveria escrever como mulher, e não como se fosse um homem."
E assim a mulher não só não deve escrever como se fosse um homem como não deve cantar o homem como muso, mas sim reflectir-se numa sua emanência ...é o canto do seu corpo e do seu magnetismo que faz a diferença...mas o facto de a mulher se ter inibido da sua sensualidade própria e da sua força magnética ela procura erotizar o amor através do corpo do homem em vez de se cantar a ela mesma uma vez que por si mesma ela não se valoriza... rlp

"Como é que a devíamos então adorar?
(…)
A prática da verdadeira poesia reclama um espírito miraculosamente desperto e capaz de, por iluminação, juntar as palavras, através de uma cadeia mais-que-coincidência, numa entidade viva, um poema que vai viver por si mesmo, talvez por séculos depois da morte do seu autor, cativando os seus leitores pela carga de magia que ele contem. Porque em poesia a fonte do poder criativo não é a inteligência científica mas a inspiração (mesmo que esta possa ser explicada pelos cientistas) não é através da Musa lunar, o termo mais antigo e o mais adequado para designar esta fonte de inspiração na Europa, à qual a devamos atribuir? Pela tradição a mais venerável, a Deusa Branca tornou-se uma com a sua representante humana, sacerdotisa, profetisa, ou rainha–mãe. Nenhum poeta que elege a Musa pode experimentar conscientemente a existência sem ser pelas suas experiências do feminino porque é na mulher que reside a deusa seja em que grau for; exactamente como nenhum poeta apolinio não pode exercer a sua função própria se ele não se submeter a uma monarquia ou a uma quase monarquia. Um poeta que elege a musa abandona-se absolutamente ao amor e o seu amor na vida real é para ele a encarnação da Musa. " *
(…)



*(pag.569 -Traduzido do francês por rlp)
ROBERT GRAVES
LES MYTES CELTES - LA DÉESSE BLANCHE
IN Ed. du Rocher

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