O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, setembro 22, 2017

A CISÃO DA MULHER FOI UM EMPOBRECIMENTO


..."Sim chamar-lhe-ei poetisa. A homenagem que distingue o génio poético feminino com o prémio de lhe masculinizar o estro ultraja uma poesia que quer feminizar o mundo com magia e claridade lunar." - Natália Correia
......
vem, lira divina,
e me responde;
encontra, tu mesma, ...
tua própria voz
e
de [vossa casa] dourada,
vinde a mim, ó Musas
Safo

UMA ANTÍTESE INVENTADA - a fim de cindir a humanidade feminina...
(...)
"Entendo que essa antiga e venerável missão das prostitutas é uma ética congenitalmente feminina que só por um desvio de uma religião patrística foi reservada às sacerdotisas do amor a fim de cindir a humanidade feminina na projecção do abominável e do sublime masculino. Uma antítese inventada por esse ser eminentemente melodramático que é o homem, sem a mínima verosimilhança no cosmo da realidade da mulher que não distingue o espírito da carne. Eis porque as mulheres honestas sempre no fundo invejaram as prostitutas e vice-versa.” (...) In A MADONA de Natália Correia

"A razão poética é uma razão de amor, porque é “reintegração da rica substância do mundo”, ou seja, porque procura a reunião, a ligação. Se atendermos à definição dada – “reintegração da rica substância do mundo” – temos de reconhecer nesta racionalidade a vontade de restituir algo perdido para que a riqueza do mundo se recomponha. Ou seja, algo se cindiu e essa cisão foi um empobrecimento; restaurar a perdida riqueza do mundo supõe superar essa cisão e retornar a uma unidade originária.” FERNANDA HENRIQUES


A cisão aplicada à Mulher (a sua divisão em duas) foi o que fez o ser humano perder a ligação do cósmico e telúrico - a perda de contacto com a sua natureza instintiva e da mulher como  fonte do oráculo e esse afastamento da mulher original, deu  lugar a uma mulher metade pela perca substancial da sua ligação ao  universo, a partir do momento em que a mulher, mediadora das forças cósmico telúricas, deixou de ser essa mediadora ao ter sido  condenada ao descrédito por Apolo que marca o inicio do patriarcado e depois foi cindida em duas pela religião judaico-cristã que ao impor o casamento criou essa cisão na mulher dividindo-a em duas: a mulher casada e submissa ao marido, e a mulher sem dono condenada ao Bordel e a prostituição de um modo gera; perdeu-se assim   a possibilidade da “reintegração da rica substância do mundo” uma vez que é  a mulher em essência essa mesma substância ou Sophia e ainda a  Musa e a própria poesia - sem a musa não há poetas...etc.

 Este tema...é intuído de forma muito próxima do grande cisma que divide o mundo pela anulação divisão da mulher em si; estas escritora  intuem a cisão do mundo e da mulher mas não colocam na própria mulher essa substância, porque a mulher foi desviada dela como um ser amálgama e convertido em objecto reprodutor ou de prazer e ela mesma hoje em dia só se pensa em abstracto, ajuíza pelo intelecto e não pelo sentimento tal como o homem pois o seu feminino profundo - a  sua sabedoria inata está hoje desligada na mulher intelectual que usa  o ego do homem (filosofo e o psicanalista) e não o seu dom inato de vidente e oráculo... 

A mulher intelectual,  regra geral, não se revê certamente nem revê em si mesma a divisão das duas mulheres, não vê dentro de si o conflito entre uma parte, a mulher má, a parte reprimida da mulher, a sombra de Lilith, a puta, a devassa o demónio, diria, e a parte boa, a Virgem, a esposa...a submissa Eva...Esta mulher intelectualizada dos nossos tempos  creio bem que ela não veja  essa cisão em si quer na própria mulher e como ela se repercute tanto no seu interior como no exterior e no mundo...Sim, ela não vê e não entende sequer como a cisão interior da mulher na sua psique se reflecte na  ausência  da "rica substância do mundo"  que corresponde ao feminino sagrado à essa mulher original que desapareceu completamente do mapa...e que era a mulher por excelência...e como ELA  faz falta realmente  no mundo...

 rlp

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