O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, outubro 31, 2016

Bruxas eram apenas mulheres...




UM TEXTO EXCELENTE E CLARIFICADOR

COMO NASCERAM AS BRUXAS DO PONTO DE VISTA SOCIAL,  POLITICO OU ECONÓMICO.


Embora a visão da autora do livro seja  obviamente uma visão marxista e materialista, este é um estudo fundamental pois  não deixa de ser uma realidade social e psicológica independentemente do aspecto secular de negação da Deusa Mãe e do poder intrínseco da Mulher, como vidente primordial.

"Tal como Silvia Federici explica no seu livro Caliban e a bruxa as autoridades seculares eventualmente descobriram a estratégia popular de dar tudo o que as mulheres tinham aos homens inclusive as próprias mulheres. Os funcionários públicos não se esqueceram de contabilizar o valor económico do trabalho feminino; foi, pelo contrário, explicitamente excluído da contabilidade econômica - declarou-se não ter valor. Os comerciantes (homens) coordenavam boicotes às mulheres que tentavam ser comerciantes assim como aos homens que trabalhassem com elas. As mulheres que persistissem em tentar qualquer negócio/profissão eram humilharas, chamadas de prostitutas ou bruxas ou atacavam-nas sem sofrer represálias.
Eventualmente presumia-se que uma mulher que estivesse em público sozinha era uma bruxa ou uma prostituta. A violência contra as mulheres era normal e tinha cariz sexual. As mulheres eram cada vez mais levadas a prostituirem-se se nenhum homem as suportasse financeiramente ou quando eram excluídas do seu círculo social por causa de acusações de mau comportamento, relações ilícitas ou abuso sexual. Na prostituição os homens importantes da comunidade podiam torturar essas mulheres à vontade, sendo elas as únicas sujeitas a sanções legais.
Afim de participar na resolução do problema da população revoltada e adquirir o seu quinhão de riquezas a igreja aprovou e abençoou com o selo divino esta destruição dos direitos e independência das mulheres. Os padres inventaram as bruxas. Ou seja, inventaram mulheres que adoravam o diabo e tinham sexo com ele, o que lhes dava poderes caricatos que o historiador feminista Max Dashu chama de diabolismo. Além disso a igreja afirmava que tudo o que não fosse aprovado como cristão era diabolismo.
Mas não havia nenhumas bruxas tal como a igreja as define. A imagem pornografica e diabólica descrita no Malleus Maleficarum não se refere a nenhuma pessoa existente. Na maior parte nem sequer se refer a coisas possíveis, apesar do facto que algumas práticas indígenas espirituais e curas para mulheres serem incluídas como evidências de bruxaria.
Bruxas eram apenas mulheres. Era isso que os homens queriam dizer nas suas próprias palavras."


Silvia Federici
Texto corrigido por India Melodia

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