O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, agosto 18, 2016

A violência perversa no casal - é própria do casamento.



SOBRE A VIOLÊNCIA NO CASAL, ao traduzir este texto coloquei o discurso de acordo com os papéis. para mim, embora a mulher possa ser também uma narcisista e dominar o homem em certos casos, o facto é que o DOMINADOR social e psicológico dentro do Sistema Patriarcal é sempre o Homem pela sua força e preponderância como cabeça do casal e o provedor do lar, o dono da casa e o senhor da mulher - a psicanálise e a psicologia em geral omitiram estes aspectos do domínio secular do homem sobre a mulher (quase sempre vitima de submissão e anulação) e pretendeu dar uma igualdade de géneros que nunca existiu até hoje de facto...Sabemos hoje que a violência sempre perversa dentro de casa e entre o  casal pelo domínio do homem no casamento era próprio da relação-contrato  e sempre foram a sua expressão "natural". Neste aspecto a psicanálise e mesmo a psicologia das profundidades perderam muito na sua análise por branquearem e ignorarem a Mulher como vitima endémica do Sistema patriarcal e aceitarem isso como normal...


A violência perversa no casal

"Muitas vezes se recusa ou se desvaloriza a violência perversa no casal, e  reduz-se  a uma mera relação de dominação. Uma das simplificações da psicanálise consiste em fazer da vítima o cúmplice ou mesmo o responsável pelo intercâmbio perverso. Isto é negar a dimensão da influência, ou o domínio, que paralisa e que o impede de se defender, e equivale a negar a violência dos ataques e a gravidade do impacto psicológico do assédio que se exerce sobre ela. As agressões são subtis, não deixam um rasto tangível e as testemunhas tendem a interpretá-las como simples aspectos de uma relação conflituosa ou apaixonada entre duas pessoas de carácter, quando, na verdade, constituem uma tentativa violenta e por vezes bem sucedida, de destruição moral e mesmo Física...

No casal, o movimento perverso se inicia quando o movimento afetivo começa a faltar, ou quando existe uma proximidade muito grande em relação ao objecto amado.
Uma proximidade excessiva pode dar medo. Por esta razão, o mais íntimo é o que se vai converter no objeto da maior violência. Um indivíduo narcisista impõe o seu domínio para manter o outro, mas também tem medo que o outro  se aproxime demais e o invada. Pretende, portanto, manter o outro numa relação de dependência, ou mesmo de propriedade, para provar a si mesmo a sua omnipotência. A vítima, imersa na dúvida e na culpa não pode reagir.
A mensagem não confessada é "Não te quero", mas se esconde para que o outro não se vá. Deste modo, a mensagem actua de forma indireta. O outro deve permanecer para ser frustrado permanentemente. Ao mesmo tempo, há que evitar que pense para que não tome consciência do processo...
O domínio se estabelece num indivíduo narcisista que pretende paralisar  a parceira colocando-a em uma posição de confusão e de incerteza. Isto livra-o  de comprometer-se num relacionamento que dá medo. Por meio deste processo, mantém o seu parceiro à distância, dentro de limites que não lhe pareçam perigosos. Não quer que a sua parceiro o invada, mas fá-la sofrer o que ele mesmo não quer sofrer, afogando e a mantê-la "à sua disposição". Se um casal quer funcionar normalmente, deveria prever um reforço narcisista mútuo, embora existam elementos pontuais de domínio . Pode acontecer que um se tente "desligar" do outro, a fim de estar muito seguro  porque  assim fica numa posição dominante na relação. Mas um casal conduzido por um perverso narcisista constitui uma associação letal: a difamação e os ataques subterrâneos são sistemáticos.
Este processo só é possível graças à excessiva tolerância da pessoa agredida. Os psicanalistas interpretam frequentemente que esta tolerância está relacionada com os lucros inconscientes, essencialmente masoquistas, que a vítima pode obter da relação. Não obstante, veremos que esta interpretação é parcial, pois algumas dessas pessoas não manifestaram nunca tendências autopunitivas antes nem as manifestam mais tarde; também é perigosa, pois, ao reforçar a culpa da vítima, não a ajuda de nenhum modo a encontrar os meios para sair dessa situação embaraçosa.
Na maioria dos casos, a origem da tolerância se encontra numa lealdade familiar que consiste, por exemplo, em reproduzir o que um dos pais viveu, ou aceitar um papel de pessoa reparadora do narcisismo do outro, uma espécie De missão que um deve se sacrificar."

Marie-France Hirigoyen
"O assédio moral. O abuso psicológico na vida cotidiana " (CAPÍTULO 1)



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