O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, abril 09, 2016

QUE OLHAR?


OS OLHARES...

“NA poesia dos sumérios, a expressão “olhar de vida” é usada às vezes para sugerir alguém que, cheio de amor, fita outra pessoa e transmite vitalidade com o olhar.”


"Quando mata a Piton em Delfos, o umbigo do mundo, Apolo detém o curso do tempo, pois a serpente enrolada que trazemos no abdómen é o eterno movimento ondulatório da fluidez feminina. Todo o rapaz bonito é um Ícaro ascendendo para o sol apolíneo. Mas se ele foge do Labirinto, é apenas para se precipitar no mar de dissolução da natureza. Os cultos da beleza têm sido persistentemente homossexuais, desde a antiguidade até aos salões de cabeleireiro e casas de alta-...costura dos nossos dias. O embelezamento profissional das mulheres às mãos dos homossexuais masculinos é uma espécie de reconceptualização dos factos brutos da natureza feminina. Como fin de siecle oitocentista, os estetas são sempre homens, nunca mulheres. No lesbianismo não existe nada que se assemelhe à adoração grega pelo adolescente. A grande Safo pode ter-se apaixonado por raparigas, mas tudo indica que ela interiorizava, mais do que exteriorizava, as suas paixões. (…) É por demais evidente que o lascivo deleite do olhar não existe no erotismo feminino. O idealismo visionário é uma forma de arte masculina. Uma esteta lésbica é coisa que não existe. Mas se existisse seria a partir da perversa mente masculina A intensa busca da beleza através do olhar é uma forma apolínea de rectificar a vida no nosso corpo, nascido de uma mãe.


Camille Paglia in Personas Sexuais pag.s 127/8

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