O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, fevereiro 11, 2016

O TEMPO ESTÁ A CHEGAR


O TEMPO ESTÁ A CHEGAR...

"Hoje pus na mala a minha saia branca e ao fazê-lo o aroma suave da sálvia encontrou o caminho para o meu nariz. A sálvia. A sálvia e as minhas irmãs. As minhas irmãs cheiram a sálvia. As minhas irmãs são feitas de sálvia. Nós somos sálvia. E a saia lá se aconchegou tranquilamente mas não sem antes me apaziguar: "não te preocupes é só por um tempo, um pequeno e curto período de tempo, porque eu estou em ti, na realidade... nunca saí de ti, as tuas irmãs também não. Tens cada uma bordada nos folhos de mim mesma e quando giras nas rodas antigas de tempos ainda mais antigos são elas que giram contigo e te fazem girar e me fazem esvoaçar. São elas que me levantam no ar em cada rodopio que dou, que dás, que damos. E nos teus pés descalços está gravada a memória das batidas da terra, das batidas da Mãe, por isso não te preocupes, é só por um momento que na realidade não existe porque os momentos são uma invenção dos homens e tu não és regida pela lei do Homem, a tua lei vem da Mãe e do Pai que viveram antes da vida e da morte, a tua lei não se verga à vontade daqueles que se têm como vergadores, a tua lei É e por isso está fora do alcance de tudo isso.

Não tenhas medo. O tempo está a voltar. O sangue que sobe é também o sangue que desce. O tempo está a chegar. O tempo está a chegar. E as irmãs vão-se levantar e a terra vai gritar porque as filhas vão acordar e Mãe vai-se abrir como outrora abriu com um grito de prazer antigo, muito antigo do tempo antes do tempo e no dia do grito as filhas vão saber que a mãe acabou de nascer, uma vez mais, e que o tempo está a voltar. Eu sou a tua saia. Eu sou a batida do teu chão. Eu sou o canto do teu ventre. Eu sou o tremor das tuas pernas. Eu sou o que Sou e aqui te digo, as Filhas estão a acordar. E quem quiser ouvir que ouça porque eu falo aquilo que falo. O tempo está a voltar."

Sónia Gonçalves

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