O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, junho 22, 2015

O QUE É QUE AS MULHERES QUEREM?

"O QUE EU QUERO É UM HOMEM"...

Um texto (excerto)de um livro  extremamente importante para compreender a mulher na sua psicologia actual em que predomina na mulher não o feminino ANIMA, mas o masculino ANIMUS...e aponta uma das causas dessa inversão na psicologia e na formação e actuação da mulher moderna - a mulher sem mãe...

"É precisamente na mulher que tem uma relação pobre com a mãe que o arquétipo de si mesmo primeiro se constela, naquela que tende a buscar a sua plenitude através do pai ou do homem amado. […]

 Uma mulher expressou isso quase como um manifesto no começo da análise:

 “Eu insisto em ter o carinho dum homem. Qualquer fonte feminina me enfurece. O homem é responsável pelo universo. As mulheres não passam dum segundo lugar. Odeio túneis, Kali, minha mãe e este corpo de mulher.

O que eu quero é um homem.”

O problema é que nós, mulheres muito feridas na relação com o feminino, quase sempre temos uma persona muito eficiente, uma boa imagem pública. Crescemos como filhas dóceis do patriarcado, frequentemente intelectuais e dotadas daquilo que denominarei “egos-animus”. Lutamos por defender as virtudes e ideais estéticos a nós apresentados pelo superego patriarcal. Mas enchemo-nos de autorrejeição e de uma sensação de profunda feiura e fracasso quando não conseguimos satisfazer nem aliviar as exigências de perfeição do superego.

Uma mulher com mais de dez anos de análise junguiana disse-me:

“Passei anos a tentar relativizar uma coisa que nunca tive: um ego verdadeiro”.

Realmente, ela tem apenas um ego-animus, e não um que seja verdadeiramente seu para se relacionar com o inconsciente e com o mundo exterior. A sua identidade baseia-se em adaptações da persona àquilo que o animus lhe diz que deve ser feito; assim, ela a um só tempo, adapta-se às projeções que lhe impingem e revolta-se contra elas.

Consequentemente, essa mulher quase não tem o sentido do seu núcleo pessoal de identidade, do valor e do ponto de vista femininos. Isto acontece por se terem valorizado, em relação às mulheres ocidentais, virtudes que frequentemente apenas se definem pela sua relação com o masculino: a mãe e esposa fecunda e bondosa; a filha agradável, dócil e delicada; a companheira diligente, discretamente encorajadora ou brilhante.
Como tantas escritoras feministas declararam pelos tempos afora, esse modelo colectivo e o comportamento daí resultante é inadequado para a vida; nós mutilamo-nos, enfraquecemo-nos, silenciamo-nos e enfurecemo-nos, tentando comprimir os nossos espíritos dentro dele, na certa exactamente como as nossas avós deformaram os seus corpos sensíveis dentro de espartilhos, por causa dum ideal.”

Sylvia Brinton Perera
in, Caminho para a Iniciação Feminina

1 comentário:

Ná M. disse...

Esse texto é essencial !!!!!!!!!!