O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, agosto 21, 2014

EROS E PSIQUE



“Eros que personifica o amor divino, apaixonou-se por Psique, que representa a alma humana. Levou-a para um palácio encantado, onde a visita todas as noites. Todavia, é-lhes colocado um interdito: ela nunca deve ver o rosto dele (*). As irmãs de Psique murmuram-lhe que, se assim é, dever-se-á certamente ao facto de Eros ser um monstro. E esta dúvida insinua-se em Psique, a qual não aguentando mais, acende uma lâmpada de azeite para poder confirmar, por si mesma, a beleza do seu amante. Mas no instante em que ela o descobre maravilhosamente belo, uma gota de azeite cai da lâmpada e acorda-o imediatamente. Eros e o palácio desaparecem. E Psique fica sujeita ao poder da ciumenta Afrodite, que a leva consigo para os Infernos.
    Apesar de tudo, a história terá um fim feliz: Eros conseguirá recuperar Psique, mas “com o favor do sono”, e Psique permanecerá para sempre unida ao amor divino.

O que surge duas vezes sublinhado nesta história – através do interdito de ver o rosto, e depois pelo sono que permite os reencontros – é a necessária aceitação no outro de uma identidade que lhe é própria, de uma radical alteridade.

    Pelo contrário, os Infernos simbolizam um universo no qual o outro não tem direito de ser outro: qualquer alteridade, qualquer diferença não fazem senão atiçar o fogo da inveja; Afrodite, tal como a serpente, reúnem assim toda a sua energia com o fim de nivelarem e reduzirem no exterior delas tudo aquilo, que, não se lhes assemelhando, ataca a sua identidade.

Nicole Jeammet O Ódio Necessário Editorial Estampa

(*) Não ver o rosto é também não possuir o outro... em que cada um pode ser ele próprio, no segredo do seu próprio coração.

1 comentário:

Ná M. disse...

Eu adorooo essa história...remete-nos tb a do Barba azul, não? lindo,lindo...