O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, maio 13, 2014

....o desrespeito masculino teima em persistir ...



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No passado mês de abril foram raptadas 200 estudantes nigerianas pelos guerrilheiros, rebeldes muçulmanos, facção em oposição ao regime governamental. O objectivo desse acto foi, segundo testemunhas, o casamento em massa e obviamente à força com esses mesmos guerrilheiros.
200, 200 raparigas raptadas contra a sua vontade e neste caso contra a vontade dos pais, pois noutros casos poderia não ser assim… Jovens mulheres com idades compreendidas entre os 16 e os 18 anos numa escola interna onde estudavam. Foi durante um exame de física que o assalto à escola se deu. Durante um exame de física que essas estudantes faziam para terminar o liceu, para construir o seu futuro; e tentar chegar a um ponto em que lhes fosse possível ter uma vida profissional, que uma educação lhes ia permitir uma qualificação profissional para uma eventual autonomia e independência. Uma existência digna pelo esforço e pela força de vontade para ganhar um estatuto de pessoa livre. Ganhar um estatuto de pessoa livre…”todas as pessoas nascem livre e iguais”…não é assim? Estas não.
As meninas raptadas a meio dum exame de física que ambicionavam uma liberdade de escolha para as suas vidas, foram reduzidas a uma manada de fêmeas para o bom prazer de homens sem escrúpulos, sem moral, sem piedade, sem valores, sem qualquer sentimento humano, seres que simplesmente não merecem viver; ao contrário dessas jovens mulheres que se esforçavam para poder (tentar) escolher e ter uma existência digna de qualquer ser humano com ambições construtivas e não destrutivas, ao contrário dos seus agressores fundamentalistas.

Com estes episódios e outros que chegaram até mim no mesmo dia por diversas vias, eu interrogo me de facto sobre a condição das mulheres e o enorme trabalho que falta fazer para alcançar uma igualdade de trato e um respeito pela condição feminina, geradora da vida guardiã da família, base da existência humana. Isto tudo num século em que as capacidades intelectuais estão mais do que provadas mais do que igualadas. No entanto o desrespeito masculino teima em persistir permitindo situações de extrema injustiça, de extrema maldade.
Revolta me os inúmeros exemplos de falta de respeito e ligeireza masculina na sociedade em que vivo, são mais os casos de vidas a dois atravessadas por mentiras e enganos do que aquelas em que reina a harmonia, amizade e o respeito, supostos e acordados desde o início pelos dois.

Naquelas sociedades em que não vivo mas que chegam até mim através dos media, símbolo de progresso…progresso (?)… Lamento a existência sofrida, injusta e extremamente desigual das minhas semelhantes nos outros cantos do globo… fico grata, apesar da revolta que sinto,  por ter nascido numa parte do mundo considerada desenvolvida e considerada “civilizada”, em que a minha condição de mulher é respeitada ao ponto de me ser dada a oportunidade de estudar e escolher livremente o meu caminho; mesmo se permanece uma obrigação latente de sacrifício e uma desigualdade quando se trata de fazer escolhas; escolhas individuais quando por exemplo se tem uma família, escolhas de comportamento na sociedade civil escolhas em que frequentemente as mulheres põem, na maioria dos casos, os outros à frente das suas próprias vontades, dos seus próprios desejos até dos seus próprios sonhos. Isto é numa sociedade onde supostamente podem escolher mas onde convém manter uma certa ideia da realidade e um certo pragmatismo para não sofrer muito... ser sempre mais forte e mais esperta, construir uma vida em cima de algumas duvidas, algumas consciências, sempre para o bem da família… é isso que faz com que as sociedades avancem e continuem a crescer sobre algum sacrifício, alguma dor, muito altruísmo e dedicação, muito trabalho por parte do segundo sexo. Que tem “chata” como adjectivo mais usado para qualificação ou como diriam os franceses verdadeiras “emmerdeuses”; pelas suas insistências, manias, repetições e exigências.
Todas as coisas têm um lado bom e um lado mau ou menos bom. No equilíbrio está a harmonia de tudo. Mas tenho a certeza que os comportamentos individualistas masculinos ou femininos não têm lugar nessa balança. A igualdade de oportunidades entre os sexos é um dever e um direito humano assim como a igualdade de direitos e deveres em todos os aspectos da vida. Embora melhor isso não está instituído. Nem no século XXI. Vai ser sempre assim?

 Sofia Leitão

 

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