O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, novembro 19, 2013

O HOMEM E A MULHER...


 


"A carruagem da masculinização, que trouxe numa mesma braçada o racionalismo religioso e o positivismo científico, provocou a dessacralização da sexualidade e a redução do eros a festim da corporal – se é que ainda é festim!  (…)
Reina tanto mais a confusão quanto uma clivagem se cava no coração da humanidade; está em ressonância quase completa com aquela que eu exprimia mais atrás, separando o homem da mulher: de um lado estão aqueles, homens e mulheres, que por enquanto só olham para fora (…), a seu ver normativa em si mesma; do outro estão os que se viram para o oriente. Os primeiros debatem-se num dilúvio de violência e não sabem mais do que sobreviver radicalizando ao extremo, no terror de uma perda de segurança, os velhos esquemas masculinizados das éticas religiosas, políticas, sociais, etc; os segundos, começam a aceitar morrer para esses valores passados, porque aceitam morrer para esses valores passados começam a viver."

 O feminino do ser - Annick de Souzenelle
***

ESCRITO POR UM HOMEM - Sobre a Alienação dos Homens...

Josep-Vicent Marqués - professor de sociologia, escritor, ecologista, divorciado, sentimental, despistado, moderadamente míope, orador muito apreciado - é doutor em Direito. É também um humorista espanhol muito estimado, tendo mantido durante anos uma coluna no diário El País.
“O homem nasce livre e vemo-lo por todo lado carregado de cadeias. É escravo das ideias que lhe inculcaram acerca daquilo que deve ser um homem. Os seus movimentos de aproximação relativamente aos outros homens e às mulheres vêem-se entorpecidos pelas cadeias do patriarcado. Mal o identificam como varão pelos seus órgãos genitais, doutrinam-no num conjunto de obrigações sem outro fundamento além do sexo que lhe tocou por acaso.

Prometem-lhe vir a ser um chefe, mas geralmente só consegue a chefia de uma mulher e de uns filhos cada vez mais lavandiscos. Em contrapartida, é perpetuamente chantageado por um modelo desmedido, paranóico, megalómano daquilo que deve ser um autêntico homem, um grande homem. Alguns privilegiados, apoiados por factores externos como a riqueza e o poder, exercem uma masculinidade prepotente aborrecendo a vizinhança. Para a maioria dos varões, no entanto, o resultado é hoje apenas a angústia do frustrado ou a vaidade do insensato.

Todo o homem traz dentro de si o cadáver da criança sensível e brincalhona que o obrigaram a estrangular em nome da gloriosa corporação dos varões. Todo o homem traz ainda dentro de si o gérmen de uma possível pessoa."

Sem comentários: