O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, agosto 29, 2011

UMA MULHER LÚCIDA



Liana disse...
Também nunca entendi essa história de se falar em sagrado masculino num estudo que deveria estar centrado na Deusa. Não é negar ou excluir a parte masculina pois é urgente que o homem se encontre e seja íntegro. Só que fica parecendo que estes grupos femininos estão dando um passo maior do que a perna. Como falar em integrar feminino e masculino, seja lá o que for que isso significa, se a maioria das mulheres sequer têm conciência do seu feminino ou do que fazer com ele? E que masculino é esse, se não nos reconhecemos, como identificar o masculino diante de nós? Somos nós mesmas nossa primeira e maior referência, se não temos consciência do que há de mais precioso e viceral em nós, nossa deusa interna, nossa própria sacralidade, como seremos capazes de reconhecer o sagrado no homem?


Penso que temos que ir com calma, começar com o básico. Há lugar para esses estudos para aquelas mulheres mais adiantadas contudo acho que sejam pouquíssimas. Vejo pressa nos outros, parece uma coisa fast food da Deusa. Naturalmente, falo como mera observadora pois venho buscando informações sobre Ela e vejo muitos estudos tendo como uma das premissas essa tal integração fem-masc e nem sempre encontro a conexão pura que a Deusa precisa para nos tocar. Sinto que não estão pavimentando e honrando corretamente o caminho para Ela.


Falam que a "força" é característica masculina, tendo sido as mulheres alijadas dela, buscar o masc. em si seria uma maneira de desenvolver esse lado. Mas será mesmo que a Deusa carece de força própria? Será que precisamos ir buscar no "vizinho" a nossa força? Raciocínio análogo também serve para os homens, se bem que eles tem a questão de terem seus corpos gerados e alimentados por uma mulher-deusa, da mesma forma que as mulheres, essa ligação é muito forte e primitiva. Mas mesmo assim penso que eles têm suas próprias versões do que é sutil, amoroso, intuitivo, acolhedor etc.


Enfim, acho que tudo o que buscamos sobre a Deusa está em nós mesmas e nas outras mulheres. Aceitar, reconhecer e interagir com o masculino é um processo necessário mas secundário.
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Liana:

Agradeço imenso o seu comentário, justissímo e não podia estar mais de acordo consigo. Fico-lhe muito grata por ver que há mais mulheres lúcidas a pensar como eu...É urgente estarmos atentas a mais este atentado muito subtil e tentador... feito pelas próprias mulheres em nome da deusa... para nos afastar da nossa busca de integridade em nós mesmas...
Seria não só impensável que assim fosse,  ir buscar a nossa força ao masculino, como algumas mulheres promulgam nesse, como disse,  fast food da Deusa,  como seria totalemnte absurdo! E essa visão redutora da Mulher e da sua força não é mais do que um novo atentado à integridade da mulher e um deturpar de novo do seu poder interior que tanto temem os homens. Procuram desse modo impedir de novo a mulher de mergulhar no seu verdadeiro SER, como MULHER INTEIRA.
A mulher está efectivamente hoje muito mais ligada ao masculino, como não podia deixar de ser numa cultura totalmente masculina, do que jamais esteve ligada ao seu feminino. O Grande Feminino perdeu-se nos confins dos tempos, alienada a mulher desse seu poder interior e da sua consciência da Deusa. O feminino que a mulher usa, que se julga ser ela...e na forma como ela se expressa, é um falso feminino, é um feminino diria algo travestiado, resultado do que o homem pensa e tem definido (e escrito) sobre a mulher através da cultura e da arte há dezenas de anos.
Nós não sabemos nem estamos em contacto com o nosso verdadeiro feminino, o feminino de profundidade, o feminino sagrado. Apesar do trabalho das feministas sobre a mulher social, elas não contribuiram também em nada para a consciência da divisão das mulheres em si e aceitaram sempre como inevitável essa cisão entre a "santa e a puta". Por isso todo o esforço do nosso trabalho deve ser feito nesse sentido de unir esses dois aspectos da mulher dentro dela (o sensual e o maternal) - IR AO SEU ENCONTRO AO ENCONTRO DA MULHER ANCESTRAL - e não integrar mais masculino sobre masculino sem fazer a descida ao nosso centro, ao nosso fundo a esse incomensurável universo feminino puro...que nos foi interdito e inacessível durante séculos.
O medo do patriarcalismo do Poder da Deusa e da Mulher é aquilo que os homens mais recearam ao longo dos séculos e receiam ainda...por isso esta investida perigosissima contra a força natural da Deusa e da Mulher que desperta para ela mesma, afirmando-se que o poder da mulher está na sua força masculina...

A Grande Deusa e a verdadeira mulher estão indissociávelmente ligadas e o Aparecimento de uma passa pelo re-aparecimento da outra...
Quando a mulher encontrar o seu verdadeiro feminino e para isso ela tem de "esquecer" e ignorar completamente nessa descida o masculino, para poder mergulhar no seu fundo abissal do qual foi desviada precisamente pelo masculino para poder ser dividida e dominada à vontade pelas forças involutivas de controlo do mundo.
Mais uma vez obrigada por me trazer esta execelente visão do nosso trabalho.
rlp

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