O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, abril 04, 2011

A SERPENTE COMO PODER CRIADOR UNIVERSAL


A SERPENTE DA DEUSA...
QUE OS HOMENS QUISERAM FAZER PASSAR PELO FALO...

A associação da Serpente ao sexo, À MULHER e ao mal, dada como símbolo absoluto do falo para os freudianos é uma forma absolutamente redutora dos nossos tempos de psicanálise de superfície...

Os mitos abordados na perspectiva freudiana e dos seus seguidores, são a forma linear do pensamento patriarcal em que o falo é princípio dominador (o masculino) e em que se assenta o poder do homem e da sua expressão dada com o unico sentido e origem da existência do Homem em que a mulher conta pouco ou quase nada...e é mesmo apagada da linguagem...

Essa visão é além de ignorância profunda da nossa origem ctónica, uma deformação do Sagrado Feminino e do seu Princípio, de acordo com os interesses fomentados pelos patriarcas através das suas religiões e culturas até hoje.

Mas passemos a uma visão mais alagrgada do Mito e do Símbolo...


"Como acompanhantes de todas as grandes deusas, encontramos os animais, que se postavam ao lado da Grande Mãe de forma tão proeminente que são tidos como sua epifania: a simples presença do animal evoca a presença da Deusa. Estes animais, longe de serem totens ou divindades individuais de crenças politeísticas, corporificam a própria divindade, definindo sua personalidade e exemplificando seu poder. Por seu movimento e renovação cíclica, a serpente foi o animal mais freqüentemente associado com o fluir do sangue menstrual. Pelo hábito de recolher-se nas reentrâncias da terra para hibernar, bem como se desfazer anualmente de sua pele, como um recém-nascido se desfaz da placenta, a serpente é considerada símbolo de continuidade da vida e da conexão com o mundo profundo.


Um símbolo universal altamente complexo, encontramos a serpente na origem de muitas mitologias. Como emblema das divindades auto-criadas, representa a fonte de todas as potencialidade, tanto materiais quanto espirituais. E neste sentido também representa a primordial natureza instintiva humana, a força de vida potencial e animadora que surge das profundezas do ser.

Como uma das muitas epifanias da Deusa, quer represente o Sol ou a Lua, a vida ou a morte, a sabedoria ou a paixão cega, o reino espiritual ou o reino físico, nos relatos cosmogônicos este animal primordial e misterioso habita o oceano primordial, do qual tudo emerge, ao qual tudo retorna.

Como uroboros, a serpente que morde seu rabo, simboliza o caráter cíclico de todo ser, o fim que se une ao começo. Neste sentido, ainda faz parte de uma visão integrada da vida humana. Sua associação com vida, fertilidade, rejuvenescimento e regeneração faz dela um símbolo de imortalidade, razão pela qual é sempre encontrada junto à Árvore da Vida, possibilitando o acesso a ela. Nas diferentes partes da África, a força primordial da criação é concebida como a "serpente cósmica", uma das criaturas mais amplamente encontradas nas diversas mitologias.


No começo, o poder serpentino se enrolou em torno da terra disforme, mantendo-a coesa, e ainda tem essa função. Ela se move constantemente, seu fluxo espiral pondo os corpos celestes em movimento. Seu poder criativo está intimamente associado com às águas e o arco-íris. Na cosmologia andina, as serpentes representam o mundo profundo (ukupacha).


Entre os incas do Peru, todas as coisas retornam ao útero da Mãe Terra para serem transformadas. Entre os astecas, a mãe das divindades era Coatlicue, que dá a vida e a toma na morte. Nos mais antigos dias dos povos do México, a mãe Coatlicue escondia-se no nebuloso topo da montanha no país de Aztlan, enquanto seus servos-serpente viviam dentro das cavernas da montanha. Desta casa secreta ela deu nascimento à luz, ao sol e a todas as estrelas no céu Representando bem mais do que fertilidade sexual, as serpentes hibernam no inverno e reaparecem na primavera. Por isso, eram consideradas pelos egípcios como a vida da terra. Nos livros dos mortos egípcios, é dito que ela oscila entre amar e odiar os deuses. Por este seu aspecto duplo, era usada para representar poderes sagrados benéficos e hostis. Quando benéfica, estava protetoramente ereta, como na fronte dos faraós.


Quando hostil, era a serpente Apófis, que diariamente ameaçava o sol em sua trajetória noturna. As divindades-cobra eram sempre femininas. De registros do antigo Egito, sabemos que a imagem da cobra era o sinal hieroglífico para a palavra "Deusa" e que a cobra era conhecida como "o Olho", uzait, um símbolo de insight místico e sabedoria. Na tradição aborígine australiana, o poder do sangue menstrual é designado e identificado mitologicamente como uma grande serpente. Esta força semelhante ao arco-íris, de cor vermelho-sangue, é entendida como característicamente maternal.


Na mitologia da terra de Arnhem, no centro-norte da Austrália, "tornar-se um arco-íris" é um encanto menstrual. A serpente representa, simbolicamente, o poder criador universal manifestado pelo sangrar da mulher. Descrita como amante da água, detectora de odores, envolvendo as mulheres e, acima de tudo, amante de sangue, a serpente "não é outra coisa que o poder simbólico da ‘inundação’ ou do ‘fluxo’ das mulheres".


- copiado de Alta Sacerdotisa (Texto extraído do livro Rubra Força – Fluxos do poder feminino – de Monika von Koss)

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