O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, fevereiro 11, 2011

A MENTE HUMANA...E O CORPO DA MULHER...



(…)
Tenho estado para aqui muito caladinha, a ver o que vai sendo publicado e sem a mínima vontade de acrescentar prego ou estopa à construção que se vai erguendo…
Dias de convalescença levaram-me a mergulhar ainda mais profundamente naquilo que neste momento considero o tema mais fascinan...te: a MENTE HUMANA, a forma como com essa ferramenta poderosa e sofisticada criamos a realidade em que vivemos. É fascinante e ao mesmo tempo, confesso, um bocadinho assustador… Quanta responsabilidade! É que o dilema instala-se. Se olho muito para os problemas, crio o efeito absolutamente perverso de atrair cada vez mais e mais problemas semelhantes, situações que vêm confirmar aquilo em que acredito. Mas, por outro lado, parece egoísta e infantil não olhar e não denunciar situações terríveis, desequilíbrios, abusos de que as vítimas podem não ter consciência e com a minha denúncia sem dúvida que as estou a ajudar… Então, como é que ficamos? Olhamos e desviamos o olhar; denunciamos e atraímos cada vez mais do mesmo?...
Só vejo uma solução: procurar a CURA e não o problema! Desejar com muito amor ver a situação curada e procurar por sinais disso. Tem de haver. Se não há é porque se calhar eu nem sei o que seria a cura dessa situação; eu não acredito nela e portanto ela nunca virá. Ou será que, como se diz em “Um Curso em Milagres” eu prefiro ter razão a ser feliz e então não quero que haja cura para continuar a ter razão?...
Luiza Frazão

“Só vejo uma solução: procurar a CURA e não o problema…”

- Eu penso que sem conhecer a causa do problema não pode haver cura…e precisamente porque se não procura a causa da doença nem dos muitos problemas de hoje as soluções são apenas remédios e não cura…e o círculo é vicioso; os doentes não podem sentir esse amor que a partida os podia curar…
Esta parece-me ser uma enorme contradição e fuga a este plano na Terra…

Por outro lado também eu às vezes não tenho certezas de nada...

Acho que passo por essas fases de dúvida e nem sempre tenho a garantia de que estou a ir pelo caminho certo. O que diz é perfeitamente plausível e já tive um dia essa posição… já percorri um caminho interior, individual, em que me era solicitado curar-me a mim própria, pela interiorização no meu ser, ocupar-me só de mim através dessa prática exclusiva...porque fazendo-o estava por suposto em contacto com a Fonte e com o amor cósmico e portanto a curar o mundo na medida em que absorvia essa paz…e essa devia ser a parte que nos cabia a cada um de nós...É uma visão da vida, uma fórmula, um processo, um ponto de vista talvez, não sei se uma proposta se uma escolha…
Eu pratiquei esse método durante mais de vinte anos e mantive-me fiel a essa via…e quando cheguei à Menopausa - à crise d a meia-idade - a Deusa manifestou-se de tal forma em mim que a minha vida mudou por força da revelação do arquétipo em mim.

MAS...não sei, nunca soube ao certo e às vezes tenho dúvidas, depois que optei por trilhar o Caminho da Deusa e da Terra Mãe, depois que optei por uma via de envolvimento-sofrimento com a matéria e com as entranhas da Terra e da mulher; não sei se assim sacrifiquei o verdadeiro caminho do SER para lá das lutas neste mundo, das suas diferenças e das suas leis naturais e humanas ou se neste caminho que trilho agora é um caminho em que posso ser útil, a mim mesma e neste caso também às outras mulheres...e portanto parece que optei por um caminho aparentemente exterior em vez de um interior…Embora todo o processo de vida se desenvolva dentro do ser…

Não, não sei se teria tudo a ganhar renunciando ao mundo como o vemos e a sua dualidade – um mundo que achamos que é passageiro e ilusório ou então um mundo em que co-criamos a nossa vida - e vivendo apenas no meu interior “em paz e amor” (até que ponto real) não precisaria mais dos outros nem de outros caminhos onde as encruzilhadas são muitas...
Há muitos anos que vivo este dilema. Mas como passei por essa experiência de dentro e durante alguns anos me recolhi num ashran e pensando que podia viver o resto da minha vida só a meditar e a fazer serviço desinteressado...a concentrar-me nessa energia dentro de mim através da meditação e em rigor, com disciplina, através do controlo da mente humana…sabendo que o mundo vive apenas esse sonho e que tudo o que vivemos aqui é ilusão…
Mas então surgiu-me a grande questão: será que o caminho dos Mestres é o caminho das Mulheres? Será que a via da Terra Mãe e de Gaia é o mesmo que o do Homem que procurou sempre voltar à Origem sem honrar a Terra Mãe e a Mulher e a Natureza e paulatinamente a destruiu, criando um inferno à sua volta…?
Pareceu-me e posso estar enganada que os Mestres falam de outra via, a ascética e árida, a da renúncia ao mundo, o caminho para o céu, e que a minha via não seria seguir nenhum mestre mas seguir a vida da Terra, sentir a Natureza e ser fiel a esse propósito pois nascemos nela e ela é uma manifestação da vontade divina criadora do mundo…

A Mãe exige sacrifício – sacrum fare – a Mãe exige a dor da separação (e isso sim é ilusão) nascer na terra, de dentro da terra e do útero, e o sofrimento é o seu resgate…Mas Sofrimento é Conhecer e quem hão experimentar não conhece!!! A Mãe exige o parir e dar fruto, do brotar da semente que gera alimento, à criança que nasce para a luz… e a Mãe é também a morte...e renascer e talves por isso a Mãe exige de nós mulheres uma completude de iniciadoras mães e amantes da terra e da Natureza…e então, se eu não enfrentar essa descida, o cisma antigo que dividiu o mundo prevalece…a divisão dos princípios prevalece e eu penso que se os escravos negros durante séculos foram escravos e hoje são menos, as mulheres meu deus….as mulheres eram escravas de escravos e continuam escravas dos seus senhores ainda hoje, sim escravas sexuais …e isso não lhes permite ser gente…portanto há um resgate da mulher…da verdadeira mulher antes de realizar a OBRA…
E para mim há fundamentalmente esses dois caminhos, sim a via da mão esquerda e da mão direita *…a do feminino e do masculino mas os homens e os Mestres apontam esse Caminho que é contrário e antagónico à Mãe e à Natureza. No paganismo as mulheres incluem os homens mas no caminho ascético os homens excluem as mulheres… Buda, Cristo ou Krisna, e outros pregaram o caminho da renúncia ao mundo e ao desejo …as mulheres foram votadas ao descrédito…E hoje as mulheres não sabem de si – não são mulheres - não encarnam a Shakti…como não encarnam a Deusa a Musa nem a Dama ou a Rainha e continuam a seguir o caminho que não é delas? Continuam a seguir o caminho dos homens…que as renegaram…
Tem de haver uma via diferente para as mulheres…e eu pergunto com Treya:

“As mulheres que alcançaram a iluminação – conseguiram-no seguindo vias ou modelos tradicionais masculinos? Conseguiram-nos seguindo o seu próprio caminho? Como é que o encontraram? Por que tipo de conflitos, dúvidas sobre si próprias, etc., passaram para encontrarem o seu próprio caminho?” e diz ainda uma coisa absolutamente verdadeira:

"
Toda a área da espiritualidade feminina se encontra em branco. Muitos dos escritos de freiras foram perdidos. De qualquer forma, as mulheres não escreveram muito sobre a busca espiritual. As mulheres tem sido afastadas de posições importantes na maioria das religiões instituídas.
A espiritualidade feminina parece diferente da masculina. Menos orientada para objectivos. Pode alterar a noção do que é iluminação. Mais vasta e abrangente; mais uma vez amorfa.
(…)
A espiritualidade feminina é difícil de ver, difícil de definir. Quais são os estádios, os passos, o treino? Será que fazer croché ou malha é tão bom como a meditação para treinar a atenção e serenar a mente?
Um contínuo, com o desenvolvimento espiritual masculino num dos extremos o feminino. O masculino já foi definido, o feminino não. Montes de variações entre os extremos. Será que existem caminhos paralelos mas diferentes/separados (…)?”**


Não será pois este o tempo das mulheres deixarem de negar a sua essência primeira e em vez de seguir o caminho do masculino e as ideias dos homens procurarem em si mesmas as respostas para qual é o seu verdadeiro caminho para a alma, para a união com a deusa e com o seu par?

Não será o seu caminho o caminho e a via da Natureza Mãe em definitivo e viverem em harmonia com a Terra? Ou vão continuar a querer ser almas apenas a negar o seu corpo matéria e vida e o mundo da encarnação continuar a não ser nada – mera ilusão - e então nada há que fazer senão seguir o caminho da “libert ação” e deixamos o Homem destruir a Terra?
Não sei, às vezes também não sei...

Digam-me vocês o que acham?

Rosaleonorpedro

* "O «caminho da direita» geralmente suporta as concepções espirituais de religiões como o Cristianismo, ao passo que o «caminho da esquerda» normalmente serve de fundamento ao pensamento teosófico que subsiste nas doutrinas espirituais da Bruxaria."Wkp.

** In Graça e Coragem de KEN WILLBER
Pintura de Lena Gal

3 comentários:

Anónimo disse...

"Toda a área da espiritualidade feminina se encontra em branco." Talvez esteja na hora de os círculos de mulheres começarem a debater sobre isso, e preencher esse livro em branco com experiências próprias, com pensamentos e sonhos. O Cristianismo não foi grande desde o primeiro segundo - precisou de tempo e perseverança. E isso nós mulheres temos de sobra. Recriar o que o homem destruiu não será fácil - mas quem disse que esperávamos que fosse? Temos, todas nós mulheres, a caneta e o caderno nas mãos, e com eles o dever de começar a tentar chegar a um consenso sobre qual o caminho a seguir, o dever de tentar contornar diretrizes para que as próximas mulheres, filhas, netas, tenham o que seguir, e aperfeiçoem o legado deixado para elas. Aos passos de formiga, nossa realidade atual pode voltar a mudar para o que sonhamos.
Talvez o caminho da Deusa não está nem na "direita" e nem na "esquerda", e sim no meio. Talvez seja utopia ou um sonho bobo meu, mas... os sonhos vêm do coração, quem pode negá-los?
Abençoada seja, Rosa.

rosaleonor disse...

O caminho da Deusa é o caminho da Terra, o que foi descurado pelos patriarcas...mas a via da mulher será certamente a oposta do homem por razão dos polos serem opostos...mas complementares se ambos caminharem para o centro de si mesmos. mas isso é uma outra história, a da Espiriutalidade em si. Aqui minha querida tentamos que a mulher se consciencialize dela como mulher pelo lado instintivo e intuitivo e não da razão e da lógica que ela adoptou do caminho do homem. É preciso usar o emocional e o racional, mas a enfase foi toda dado ao racional seja por homens seja por mulheres e esse é que é o problema. Fazer as mulheres voltarem a si mesmas e darem mais importância ao que sentem e intuem e não ao que pensam e a razão!
De resto concordo consigo e agradeço a sua participação minha querida!
abraço

rosa leonor

Vanessa disse...

Olá me chamo Vanessa, sou brasileira e formada em história infelizmente apenas licenciatura), achei seu blog e adorei todo o conteúdo dele, quero deixar meu e-mail e pedir que me envie o seu se puder, adoraria trocar informações, muito mesmo...

vannyprinces@hotmail.com

desde já, agradecida