O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, julho 04, 2009

OS TRÊS CAMINHOS DE PESSOA


"Há três caminhos para o oculto: o caminho mágico (incluindo práticas como as do espiritismo, intelectualmente ao nível da bruxaria, que é magia também), caminho esse extremamente perigoso, em todos os sentidos; o caminho místico, que não tem propriamente perigos, mas é incerto e lento; e o que se chama caminho alquímico, o mais difícil e o mais perfeito de todos, porque envolve uma transmutação da própria personalidade que a prepara, sem grandes riscos, antes com defesas que os outros caminhos não têm".

Fernando Pessoa

(Citação de uma carta que o poeta escreveu a Adolfo Casais Monteiro, em 1935)

*
MEDO DO DESCONHECIDO
(...)

"Ninguém quer a verdade. O terror do real não é palatável, leva a um despertar muito abrupto da consciência, é um tratamente de choque que não despersonaliza mas que conscientiza. Ninguém quer beber na taça enteógena da verdade a si mesmo. Pai, afasta de mim este cálice! Em experiências enteógenas de verdade o vômito antes de ser uma purificação é uma reação por não podermos lidar com um certo conteúdo perceptivo. Ninguém quer ver o terror corporificado que sai de si quando temos a coragem de beber desse graal da verdade. A Verdade está em toda a parte mas ninguém quer ver. Não há medo do desconhecido, há medo da Verdade. Falar em medo do desconhecido é apenas um eufemismo para a verdade. Temos medo que nossos teorias do mundo venham abaixo. Temos medo que a nossa verdade não passe de mentira. Falamos que cada um tem a sua verdade para vivermos locupletados em nossas ilusões pessoais.

Temos medo da verdade porque a mais óbvia verdade da existência é a morte. Então tememos a morte. Esquecemos da morte e nos comportamos como se fôssemos para sempre viver. A vida é um para sempre morrer. Morremos continuamente em vida todos os dias. Nossos retratos não mentem, apesar de nossas fotinhos no orkut ou nos blogs da vida mostrarem uma imagem que queremos que os outros vejam de nós mesmos, nós não somos uma imagem estática, somos um morrer contínuo. A morte é a sedução perfeita. Não somos o mesmo, mas temos a ilusão da permanência, ilusão que não é dada nem pelo corpo, pois esse se transforma a cada momento. Se o espaço das fotos pudesse mostrar as contínuas mutações que sofremos daria uma idéia mais aproximada de nosso contínuo morrer.

Até as palavras nos dão a ilusão de saber, tornam-se assim mentiras, porque saber não é saber escrever, é saber viver, e portanto, saber morrer.

Eu não vivo para escrever, nem escrevo para viver, mesmo sendo escritor, vivo apenas para morrer.

A idéia de morrer não é um fim, não é negativa, é profundamente positiva, é um fluxo contínuo por onde se realiza o viver.

Colocar a morte como um fim é impedir de ver a vida como um processo de transformação. A quem interessa isso? Só àqueles que querem que as coisas se mantenham como são, daí as grandes religiões, tentativas desesperadas de nos mostrarem que existem um além. Se não pudermos alcançar esse além em vida não poderemos fazê-lo no fim. Será que é daí que surge a nossa mania de deixar tudo para a última hora? Provavelmente. Se compreendêssemos que a morte não ocorre no fim da vida mas está rondando a vida, dançando a sua volta e formando par, não deixaríamos nada para a última hora, pois toda hora é hora de viver e de morrer.
(...)
F.A.
In PISTAS DO CAMINHO - http://pistasdocaminho.blogspot.com/

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