O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, setembro 13, 2008

AS DEUSAS GREGAS ENGOLIDAS PELOS PAIS...


NA PERIFERIA DA CULTURA

“Na verdade, muito do que Inana simbolizava para os sumérios foi exilado desde aquela época: muitas das qualidades ostentadas pelas deusas do mundo superior foram dessacralizadas no Ocidente, assumidas por divindades masculinas, (...) idealizadas pelo código moral e estático do Patriarcado. É por isso que a maioria das deusas gregas foram engolidas pelos pais e a deusa hebraica foi despotenciada. Restam-nas apenas deusas minimizadas ou restritas apenas a determinados aspectos. E muitos dos poderes antes apresentados pela Deusa perderam a conexão com a vida da mulher: o feminino apaixonadamente erótico e lúdico; o feminino multifacetado dotado de vontade própria, ambicioso, real.

Na verdade, as mulheres têm vivido apenas no domínio pessoal, na periferia da cultura do Ocidente, em funções fortemente circunscritas, frequentemente subordinadas a homens, posição social, filhos etc., ocultando sua necessidade de poder e paixão, vivendo em segurança e secundariamente na relação com nomes sobrecarregados, nos quais se projectou todo o poder que a cultura legitima para eles. O que se tornou assim comportamento colectivamente aceitável para as mulheres, perdeu a conexão com o sagrado, ao mesmo tempo em que a estatura da Deusa era reduzida. Tornou-se cada vez mais hiperbólico o superego patriarcal, originalmente necessário para inculcar a sensibilidade ética; a seguir, esse superego foi fortalecido pela Igreja cristã institucional, com o fim de disciplinar as emoções tribais e selvagens do mundo medieval. A partir da mudança do Utilitarismo e da época Vitoriana, o superego que comprimiu e reprimiu durante tanto tempo essas energias vitais, que agora elas têm de irromper, forçando entre outras coisas, o retorno da Deusa à cultura ocidental.”


CAMINHO PARA A INICIAÇÃO FEMININA
Sylvia B. Perera

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