O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, maio 24, 2008

O anjo ou o andrógino?


“Gostava de escrever um livro que pudéssemos ler em voz alta muito lentamente e onde cada frase, mesmo incoerente, seria musical e bela.”

ANNEMARIE SCHWARZENBACH (1908 -1942)
Annemarie Schwarzenbach nasceu em 1908, em Zurique (Suíça), filha de um proprietário de um império têxtil, Alfred Emil, e de Renée de Wille, sendo educada nos melhores internatos para moças ricas. Formada em História em Zurique e Paris, publicou uma obra elogiada pela crítica, "Amigos de Bernhard", mudando-se para Berlim em 1931, onde foi acolhida pela elite intelectual. Morfinômana, íntima dos malditos Mann, suicida em potencial (embora tenha morrido acidentalmente em 1942, aos 34 anos, de uma queda de bicicleta, após hemorragia cerebral e longo período de inconsciência), correspondente de guerra, arqueóloga, fotógrafa, escritora atormentada, lésbica alçada a ícone gay, mergulhou no lado sombrio da vida em um naufrágio existencial doloroso. (...)

A parte mais intensa e lírica de "Morte na Pérsia" é a alucinada descrição que faz a autora do encontro com o seu anjo, uma figura que surge das profundidades da sua psique e da memória ancestral do país. Na antiga escatologia iraniana, tanto no mazdeísmo como no maniqueísmo, o anjo era uma presença freqüente, visto como celeste e protetor (as fravartis guardias ou as daenas, jovens que ajudam a alma contra os demônios que a assaltam). A imagem da bela viajante solitária disputando com seu anjo nu, que tem suas mesmas feições, à sombra da pirâmide coberta de neve do vulcão Damavand, resulta numa evidente metáfora da vida e da paixão de Annemarie Schwarzenbach. Uma existência que ela mesmo resumiu num grito pavoroso: " Deixem-me sofrer!".
A MINHA EXISTÊNCIA CONDENADA AO EXÍLIO E À AVENTURA (annemarie s.)

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