O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

terça-feira, dezembro 18, 2007

DÓI-ME O CORAÇÃO...


"Tudo quanto é feio, destruído, todas as coisas gastas, velhas,
(...)
Maculam a tua imagem que engendra uma rosa no fundo do meu coração. "

Yeats


UMA DECLARAÇÃO DE AMOR

ÀS MULHERES DO MUNDO INTEIRO...


Há uma estranha dor no meu peito que se confunde com amor. Um Amor que é compaixão profunda pelas mulheres do meu país e de todo o mundo. Compaixão pelo destino de todas as mulheres que há milénios, de uma forma ou de outra, sofrem na pele a mais dura miséria e escravidão…
As mulheres desde sempre tão expostas, tão delicadas, tão vulneráveis e tão sujeitas à agressão dos homens em geral, tão castigadas pela igreja e tão abandonadas pelo Sistema Patriarcal. Exploradas sexualmente por Máfias A VIVER MESMO AO NOSSO LADO!

Ninguém quer ver isso, ninguém tem coragem de ver ou dizer como se fosse um fantasma ou como se algo conspirasse a nível subliminar para branquear esta realidade através de sistemas alienatórios como o são Cinema, os Media, a moda e todas as instituições que pretendem proteger a mulher na base do seu infortúnio, sejam as mães solteiras, as prostitutas ou as drogadas, como forma de caridade ou de solidariedade mas sempre na divisão das mulheres que se acham justas e sérias e que dão ou não dão a mão às que caem e às desgraçadas.
Este é um branqueado feito pelas próprias mulheres que têm lugar nesta sociedade civilizada, e que se acham protegidas e são integradas pelo Sistema, a maioria silenciadas pelo embrutecimento e uma minoria delas são as porta-voz do Sistema em que todas são prisioneiras sejam elas médicas, professoras, jornalistas e deputadas e no fundo e no futuro serão conhecidas como as traidoras do Género…Fazem manifestações e greves para ter mais dinheiro. Falam em consciência política, economias…

Elas pensam que tiveram escolha e que as outras não…
Dói-me o coração pela traição das mulheres ao Feminino Essencial e ao seu próprio Ser interior, à sua alma, à Deusa e à Terra…

Dói-me as mulheres que se odeiam e lutam entre si como inimigas, em disputa pelo macho ou por um lugar no seu mundo de competição que as deforma e reduz a pouco mais do que um corpo-objecto. Ou a uma voz morta sem alma…
Enquanto que as mulheres que não estão dentro das “normas” sociais, são tão votadas ao descrédito e abandonadas à sua “sorte”…São as mulheres simples ou pobres, as que não casaram ou enviuvaram cedo, as solteiras e as divorciadas ou mesmo as prostitutas que a sociedade ainda olha com desprezo e até as quer legalizar.Dizem-me que não é assim, as mulheres bem situadas nas suas profissões, que têm bons ordenados, carros ou maridos…
Dizem-me que não é assim, as mulheres instruídas, jornalistas, professoras e outras, que eu generalizo demasiado e sou perigosa…
Dizem-me as minhas amigas que estão bem na vida, as intelectuais dos Partidos e que são deputadas ou as artistas de arte e as poetisas românticas, dizem essas que eu exagero e até sou fanática de uma causa perdida… que o que lhes falta é um homem a sério, como se essa espécie existisse sem mulheres verdadeiras…
Depois, foi sempre foi assim, desde há séculos, dizem todas em coro…Mas eu olho e vejo, se calhar com outros olhos, as mulheres que sofrem à minha volta e no mundo…Vejo as empregadas sobrecarregadas de trabalho e com família em casa filhos abandonados na rua, mal tratadas e subalternas, as mulheres-a-dias e as domésticas, as velhas que já nada são e vegetam, as imigrantes brasileiras ou de leste que se não vão para a prostituição servem ao balcão e sendo médicas ou engenheiras…
Ah sim, todas têm telemóvel e se calhar carro…
Vejo-as a estas mulheres e não as modelos de corpos esquelético nas passerelles obedecendo ao imaginário masculino ou as que têm sucesso e são formadas nas suas faculdades, ou as famosas artistas travestis de realizadores gays…
Vejo as “outras”, todas as outras, porque as sinto iguais a mim e não me distancio por não ser mais do que a MULHER em mim e em essência que me fala e que quer ver cada mulher inteira e porque sei que todas as mulheres que não vêm isto ou se querem esconder de si ou têm medo de assumir essa “outra” que em si renegam…Esse seu outro lado sempre renegado, escondido da sociedade e dos maridos…Ou essa outra mulher adormecida, prisioneira do príncipe encantado sem ver o sapo que ele se tornou, que sonha e anseia sempre mais, sonha sempre com o homem que sonha mesmo que leve pancadas e seja desprezada! E essa outra ainda que não ousa nada, que nem sabe o que é, que se sente incompleta e frustrada com tudo, por mais que tenha dinheiro e finja que é “bem” ou feliz, compre malas e sapatos na Estivália e vá ao Brasil ou a Paris fazer plásticas ao nariz…

Dói-me o coração de um amor estranho saber dessa Mulher Inteira essa Mulher Eterna e ver apenas metades mulheres, todas divididas e fragmentadas, vistas apenas como um “corpo-objecto” de análises médicas e interesse mediático…rlp

4 comentários:

Lealdade Feminina disse...

O seu trabalho é uma importÂncia ímpar Rosa Leonor...
Mas tbm muito difícil, pois requer uma esperança e uma paciência infindáveis...
Muitas mulheres passam por aqui diariamente... mesmo que não comentem sempre ou nunca...
Mas vc pode ter certeza de que vc as tem ajudado e de que maneira,Rosa...
Vc sabe bem como volta e meia elas (e eles tbm...) postam aqui depoimentos de como estão a ver o mundo de uma forma diferente, e como são agradecidas por isso...
Mas eu tbm tenho pensado em como as mulheres que tem algum tipo de "ganho psicológico" na sociedade patriarcal não quer ver a verdade diante do seu nariz... por medo, por egoísmo, por ter um coração duro, esteril... Para quem pode comprar atenção (do cabeleireiro, do massagista, da empregada da loja que precisa fazer as vendas...) fica mais difícil perceber quanto do seu mundo é artificial e pequeno, mesmo que as faturas sejam muito grandes... assim, elas estão mais alienadas ainda, pois é mais fácil fingir que não vê a outra mulher que sofre, ou até camuflar o seu próprio sofrimento... Por isso mesmo as terapias se tornaram um filão econômico, é por onde as tias escoam as suas frustrações...
Isso de pensar, de ser coerente, de admitir os problemas é muito difícil Rosa... são mudanças a longo prazo... num mundo de futilidades e superficialidades o que interessa falar de uma menor presa numa cadeia brasileira ou de meninas violadas no Congo... as tias negam pra si mesmas tudo isso, pra poder gastar o dinheiro sem sentir culpa... e te rotular disso e daquilo faz parte da programação... É como eu disse no blog, a violência contra a mulher é silenciosa, invisível... ninguém quer ver, e o pior cego é aquele que não quer ver...
Eu pensei nisso essa semana, depois da reunião... pq as meninas é que embora mal me conhecessem, me pediram pra voltar em minha casa e conversar mais... a mulher simples, mais humilde, vê e sente a realidade sem máscaras, e está muito mais interessada do que a pseudo-intelectual... é como eu te disse, não importa a quantidade, e sim a qualidade do ouvinte... e a qualidade está ligada À sua capacidade de ouvir, simplesmente, e conversar... não precisa de grandes patrocínios ou pompa e circunstância... basta ter um coração aberto, estar mais ligado à vida real, do que aos artificialismos e virtualismos... aos bajuladores comprados pra suprir uma carência essencial...
Vc deve se lembrar que tem uma causa, tem um dom, tem a sua missão... trabalhando para a Grande Mãe, ajudando a fundar os alicerces de uma nova sociedade, e não para elites estéris e medíocres... vc trabalha para todas as mulheres, e principalmente para as mais simples, pois ao fim ao cabo, as revoluções verdadeiras acontecem no seio do povo, e as tias são decaptadas...
Eu ainda espero que todas elas se deem as mãos... por isso continuo fazendo eco de suas idéias e seguindo seus passos... todo dia... E a mim ninguém me chama fanática, eu é que já me apresento assim:
Sou feminista fanática, neste momento, não quero falar de outra coisa...
Não desista... As mulheres precisam de ti...todas nós, inclusive essas tias esnobes...

Anónimo disse...

O que é que eu posso dizer Juliana? Agradecer a sua LEALDADE a sua força a sua simplicidade em dizer tudo o que pensa?
O que diz faz muito sentido...escreva sempre o que sente. Continue também, não sabe o que a sua voz também me ajuda ecoando lá no fundo como um mar rugindo, mesmo que agora pareça só um murmúrio.

Abraço
rosa leonor

Lealdade Feminina disse...

Acho até que eu estou aqui pra isso mesmo... é muito engraçado como as coisas vão acontecendo na vida... esses encontros, esses mistérios... Estou esperando mais informações sobre os lago intraterreno de que vc falou... tô curiosa... Beijinho... bom dia...

Anónimo disse...

Logo que possa falaremos disso, mas o que sonha é também realidade e quem sabe esses mundos nos esperam e também nos ajudam. Leia o blog de um homem muito interessante que fala disso...vou mandar-lhe o endereço.
beijos
rosa