O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, setembro 08, 2007

A LINGUAGEM DOS PATRIARCAS



"Homem" e "mulher" são conceitos políticos de oposição, e a cópula que dialecticamente os une é, simultâneamente, aquela que irá abolir os homens e mulheres8. É a luta de classes entre mulheres e homens que abolirá os homens e as mulheres9. Não há nada de ontológico no conceito de diferença. É a única maneira como os senhores interpretam uma situação histórica de domínio. A função da diferença é a de ocultar a todos os níveis os conflitos de interesse, incluindo os conflitos ideológicos. Por outras palavras, para nós, isto significa que não podem mais existir mulheres e homens, e que enquanto classes e categorias de pensamento ou linguagem eles têm de desaparecer, política, económica, ideologicamente. Se nós, lésbicas e homossexuais, continuarmos a falar de nós próprias(os) e a conceber-nos como mulheres e como homens, estamos a ser instrumentais na manutenção da heterossexualidade. Tenho a certeza que uma transformação económica e política não irá desdramatizar estas categorias da linguagem. Podemos redimir escravo? Podemos redimir escarumba? Em que medida é a mulher diferente? Continuaremos a escrever branco, senhor, homem? A transformação das relações económicas não será suficiente. Temos de produzir uma transformação política dos conceitos chave, isto é dos conceitos que nos são estratégicos. Porque há uma outra ordem de materialidade, a da linguagem, e a linguagem é trabalhada de dentro por estes conceitos estratégicos. A linguagem é, ao mesmo tempo, intimamente ligada ao campo político, onde tudo o que concerne a linguagem, a ciência e o pensamento se refere à pessoa enquanto subjectividade e à sua relação com a sociedade10. E não podemos deixar estas coisas no poder do pensamento hetero ou do pensamento de dominação."(...)




O que é a mulher? Pânico, alarme geral para uma defesa activa. Francamente, este é um problema que as lésbicas não têm por causa de uma mudança de perspectiva, e seria incorrecto dizer que as lésbicas se associam, fazem amor, vivem com mulheres, pois "mulher" tem significado apenas em sistemas de pensamento heterossexuais e em sistemas económicos heterossexuais. As lésbicas não são mulheres. "

(Monique Wittig, The Straight Mind and other Essays, Boston: Beacon, 1992)




Apesar de estar só em parte de acordo com a autora não acho que seja a sexualidade que determina a linguagem, e a haver uma linguagem universal referente à espécie humana será certamente referente ao SER em si e não ao seu papel sexual. Todos os homens são homens independentemente da sua "escolha" sexual, todas as mulheres são mulheres incluindo as lésbicas...

O facto de a espécie humana se ter dividido em dois sexos (ou mais) sendo um preponderante e um deles sofrer a anulação da sua identidade, e a linguagem expressar essa dominação, quando essa supremacia do masculino terminar haverá que referir-se ao Ser Humano não como Homem nem como Mulher...

Não vamos inverter de novo as dominações, mas, quando nos referirmos ao ser humano em geral, desde já escolher um termo neutro quanto a definição de género.

Sem comentários: