O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, março 16, 2006

AS PRIMEIRAS DO REINO

AS DAMAS
“Se elas têm gosto naquilo e se "aquilo" é sobretudo uma função ornamental, de sorrisos, fatiotas e penteados, com umas inaugurações de asilos e de exposições de artesanato mais uns discursos "pelas crianças" e contra a violência doméstica, faz alguma diferença?

Diferença nenhuma, precisamente, o que a faz toda. Reiterando todos os estereótipos daquilo que se espera de uma mulher "pública", o primeiro dos quais é ser apêndice de um homem público (abdicando até da profissão), as primeiras damas certificam, com o seu "alto" exemplo, todas as más práticas das relações de género e do género de relação que o mundo da política tem com as mulheres.
Sendo julgadas pela aparência e aceitando sê-lo (não se apressou Maria Cavaco a fazer saber, mal o marido foi eleito, que contratara um estilista?), avalizam os dichotes sobre o penteado da actual ministra da Cultura e os gritos de "bruxa" com que Manuela Ferreira Leite foi mimoseada no Parlamento (alguém está a imaginar deputados e comentadores a usar com um ministro homem dos mesmos parâmetros, tipo, ó gordo careca vai pra casa?). Restringindo-se aos temas "suaves", "femininos", demonstram que a política "a sério" é para eles e só para eles.
Num país em que a representação das mulheres nos cargos de poder é menos que escassa, talvez as primeiras damas, passadas e actual, pensem com o seu esforço de visibilidade fazer um favor à causa da afirmação feminina. Pensam mal. Como pensam esquisito aqueles que passam a vida a lamentar a falta de qualidade dos políticos portugueses e a desmontar as mesquinhas lógicas caciqueiras que presidem à elaboração das listas eleitorais mas, para refutar um sistema de quotas que assegure a representação paritária das mulheres nos cargos políticos, elogiam o sistema do "mérito". O mérito de ser homem, certamente, que de outro não se pode a maioria gabar.”


Fernanda Câncio
(excerto de artigo)

E AS OUTRAS...


AS ÚLTIMAS DO REINO...

As que ninguém quer ver ou olhar, as que não representam nada na sociedade e são escorraçadas de todos os lugares, as que não puderam ou não quiseram ser Mulher de Alguém ou donas de casa...

"Apoiadas ou compreendidas por uns, apedrejadas ou desprezadas por outros, elas suscitam-me a vontade de saber se existe uma sociedade em que isso é, ou pode ser resolvido. Qual o tipo de política capaz de exterminar o problema? Se não há um problema, mas se é a solução para as jovens pobres, onde elas poderão se encaixar jurídica e socialmente para serem aceitas? A questão continuará a atravessar séculos sem resposta plausível, mesmo em épocas e países desenvolvidos? Porque o ser humano é tão incapaz diante de fatos tão corriqueiros? Quais as propostas políticas concretas para esses tipos de "desvios" sociais? Onde e quando teremos uma economia adequada, eficiente, (e porque não perfeita?) para resolvermos a crise que uns dizem estar na Europa, outros nas Américas, outros, ainda, no mundo inteiro? Se procurarmos as respostas, isso já será um começo; se começarmos, convém que almejemos um fim..."

(excerto)
CELUY ROBERTA HUNDZINSKI DAMÁSIO

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