O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quarta-feira, agosto 17, 2005

A MINHA EXPERIÊNCIA



Curiosamente quando escrevi o meu primeiro livro e por ser uma experiência profunda do acordar do Arquétipo da Deusa Mãe em mim, quando da sua publicação, enfrentei todos esses medos e angústias de que a autora do livro em cima citado fala e durante um certo tempo, até à sua publicação, uma enorme tensão, senão um certo pavor, dominou-me quase por completo e para mim começou a ser muito claro que eu temia “represálias e perseguições” por parte de mentes obscuras e ocultas, que logicamente não tinham a ver com a minha realidade social. Embora sabendo que estava a romper a barreira do que me era permitido de acordo com os conceitos e limites como mulher, pelo que sentia e de forma tão intensa, comecei a perceber que tinha, sem sombra de dúvida, “passado” já (algo em mim lembrava-se) pelos tormentos da tortura e da morte e isso era muito vivo na minha alma. Antes dessa "certeza" ainda, pensei que todas essas sensações pudessem ter a ver, psicologicamente, com a memória real da ameaça da PIDE à expressão política que eu tinha vivido nos anos sessenta... O medo de falar e de escrever...Mas aos poucos fui percebendo que era uma memória atávica muito mais enraizada e traumática do que uma Polícia de Estado e o que eu tinha vivido concretamente. Fez-me lembrar então o meu medo das batinas negras dos padres e a agonia que sentia na missa em pequena e como uma vez me comecei a sentir tão mal que desmaiei no decorrer daquelas ladainhas. Afinal era um rememorar “o tempo das fogueiras, em que as mulheres eram perseguidas e queimadas vivas como feiticeiras” e não desta vida... Só muitos anos mais tarde voltei a entrar numa igreja. A minha repulsa, misto de medo e raiva, pelos padres - ainda hoje a sinto - e pelo ambiente fechado e sinistro das Igrejas, tornava assustador o universo religioso da minha infância....Tinha então cerca de treze anos e nessa altura, eu não sonhava sequer com a Antiga Deusa, embora a única coisa que me motivasse a ir à missa fosse a Nossa Senhora de Fátima a quem fervorosamente rezava...

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