O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, março 06, 2005

OS PARADOXOS (DES) HUMANOS...

“Em 1965, uma mulher foi vítima de alguns dos métodos de tortura mais cruéis e humilhantes praticados pela PIDE. Muitas das histórias sobre o abuso efectuado pela polícia do Estado Novo ficaram no anonimato. Muitas mulheres morreram, outras recusaram-se a contar o que lhes aconteceu.”
In Público, 4/3/05


Uma mulher conta como há quatro décadas foi tratada pela polícia de estado e como outras mulheres polícias a olharam e trataram:

(...) “agachou-se a um canto da sala para urinar. Os agentes dirigiram-se a ela, despiram-na e ordenaram-lhe que limpasse o chão com a sua roupa...
(...)
Uma outra agente, a Mariette, entrou na sala e disse olhando para ela que tinha vergonha de ser mulher...
Depois, Madalena (era uma agente famosa e temida pelas prisioneiras pela sua violência) disse: “Então vamos começar o espectáculo” - abriu a porta e mandou entrar uma dezena de homens, entre agentes e inspectores da PIDE, e começou a despi-la. “Fala ou não sua puta”, gritou-lhe. Conceição ficou nua. Ainda tentou esconder-se atrás de uma mesa , mas Madalena agarrou-a e empurrou-a para junto dos homens que se encontravam na sala.”

OS DIREITOS HUMANOS? DE QUE HUMANOS?
(tortura da água pela inquisição...)

Passadas 4 décadas uma Leonor Cipriano, que não era comunista, nem tem qualquer consciência cívica ou política e que nem era mulher polícia, é alegadamente uma mãe assassina, que também podia ser uma Mariette ou uma Madalena, e que mata uma criança de seis anos à pancada e quem sabe, corta-a aos bocados que deita aos porcos e confessa, com ar impávido e sereno, às televisões que se calhar lhe raptaram a filha...
Vai presa e passados meses não se sabe ainda ao certo o que fez à filha, e a polícia às voltas não consegue desvendar o mistério...então sabe-se agora - e toda a gente fica indignada e muito chocada - que “a pobre desgraçada” é espancada na prisão ou torturada por oito inspectores da Judiciária - que querem saber do paradeiro da criança morta a qualquer preço...
Espancam-na e dão-lhe murros à vez como os agentes da PIDE à Conceição que lutava por uma causa justa e que amava a sua causa ...

Que diferença há entre os agentes da PIDE e os inspectores da Judiciária e estas mulheres, que diferença “moral” existe entre vítimas e carrascos? Seja em Portugal, na América ou no Iraque?

O que nos prova isto? Que o Estado Novo era fascista e que a Democracia, toda ela é podre e os homens são sempre iguais e que só mudam as fardas e os ideais? E que todos são capazes de matar e torturar...


Este POVO, qualquer povo, que se mata entre polícias e criminosos, entre soldados inimigos ou camaradas, são a mesma raça e vivem este estranho paradoxo humano de entre si se torturarem e matarem em nome da sua ideia de justiça ou dos seus ideias de liberdade ou na defesa dos seus interesses materiais e bélicos ou religiosos...Antes era pelo ouro agora é pelo petróleo ou pela fé...

Foi assim que os espanhóis dizimaram os incas...
Que os americanos mataram os índios...
Que a Igreja caçou e queimou milhares de mulheres como bruxas...
E holandeses, ingleses e portugueses escravizaram os pretos?
Foi assim que os judeus foram mortos aos milhares pelos nazis e depois aprisionam e matam por sua vez outro povo...

Esta história não tem fim e é o mundo que é assim pela violência dos homens, pela lei do mais forte e da Espada. Em que o Cálice é vilipendiado. E a Rosa esmagada...
A civilização ocidental ou cristã, NUNCA existiu. Somos apenas povos bárbaros. Somos ainda os descendentes do invasores...


O CÁLICE E A ESPADA

"No núcleo do sistema dos invasores encontram-se a atribuição de mais valor ao poder de tirar a vida, em vez de a dar. Este era o poder simbolizado pela Espada “masculina” que, como atestam antigas gravações Kurgan em cavernas, era literalmente adorada por estes invasores indo-europeus. Pois a sua sociedade dominadora, regida por deuses - e os homens - guerreiros, este era o poder supremo.
Com o surgir destes invasores no horizonte pré-histórico - e não, como se diz por vezes, com a descoberta gradual, por parte dos homens, de que eles representavam também um papel na procriação - a Deusa, e as mulheres, foram reduzidas a consortes e concubinas dos homens. Gradualmente a dominância masculina, a guerra e a escravatura de mulheres e de homens mais delicados e “afeminados” tornou-se norma."


Riana Eisler

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