O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, janeiro 14, 2005


De onde vem e porque persiste ainda a hostilidade contra a mulher dentro da sociedade, na família (violência doméstica) e nos Partidos (segregação), assim como acontece nas Igrejas desde sempre. Sem dúvida que é alarmante a forma como a misoginia nos políticos e colunistas, católicos em geral, e não só, atacam as “mulheres socialistas” ou as feministas ou aqueles que as defendem... ou mesmo os livros que pesquisam e abordam outras possibilidades históricas...

“A hostilidade contra as mulheres fundava-se na posição dos patriarcas da Igreja, que se baseava , em parte, na história de Adão e Eva no Paraíso (Génesis1,2)."*

A mulher como culpada da “queda” e do desejo do homem, diabolizada ao longo de séculos ainda permanece no inconsciente colectivo apesar de tantas mudanças e aparente emancipação da mesma o que na realidade não é uma verdade. Basta ver como as mulheres são relegadas para segundo plano em todos os sectores da sociedade onde se tenta afirmar apesar da sua luta para conquistar uma posição de relevo na ciência ou na política, sem que esta lhe seja concedida a não ser pela subserviência e outro tipo de sujeição que surgem, sendo sempre preterida em favor das mulheres “masculinas” - que pensam como os homens e agem como eles - ou dos homens em todas as situações. Não menos desfasados estão os homens que não sabem como pensam as mulheres, nem a sua realidade factual...

“Faz-me um bocado de confusão que , no ano de 2005, ainda se continue a raciocinar como se fosse necessário garantir às mulheres uma protecção especial, que passa, inclusivamente, por uma condescendência particular em relação ao seu desempenho em funções políticas.(...)
(in Público)

É o que diz o Miguel Sousa Tavares, no seu artigo “As mulheres”.
(Eu pergunto o que é que ele sabe efectivamente das mulheres...)


Que ele não compreenda a necessidade de haver tal “protecção”(?) às mulheres dentro de um partido, só pode ser partindo certamente da premissa de que existe já a famosa paridade ou igualdade entre os militantes de um partido (vê-se que ele o não é...) e por isso estranha haver mulheres à parte no caso das mulheres socialistas ou comunistas, ou as “socialites”. Digo eu porém que as mulheres são e sempre foram realmente “mulheres à parte” - figuras de estilo - e não se juntam para serem protegidas, mas para poderem (ou deviam) por si próprias afirmarem a diferença e ter porventura Voz, o que se comprova não é o caso.

As mulheres a existirem dentro dos partidos são aglutinadas à “alarvidade da misoginia reinante” A. S. L.) e só por favores pessoais e outros bem conhecidos dos bastidores...é que singram. Só ele, um intelectual de elite, como bom macho e misógino ele próprio, não vê, ou pensa como se de facto as mulheres tivessem autonomia dentro dos partidos.
Das duas uma: ou a sua confusão é puro convencimento de macho latino, ou então está tão desfasado da realidade das mulheres e é - ao contrário do que eu penso - um ingénuo bem intencionado, o que o leva a espantar-se e de facto a ficar como ele mesmo confessa bastante confuso! Ou então contra tantas evidência só pode ser cego e não vê que:

AS MULHERES CONTINUAM A SER DESCRIMINADAS,
dentro e fora dos Partidos...



Ainda predomina muito do que se pensava na Idade Média...
Ou não? Quem moldou as mentalidades dos nossos chefes e patriarcas? O que é que pensam ainda das mulheres os padres e os católicos em geral?


“As crenças no que respeita às mulheres na maior parte do mundo Cristão na Idade Média, eram radicalmente dualistas. O mundo material, a carne, o demónio e as mulheres eram como uma fonte demoníaca que impediam o homem atingisse a união espiritual com Deus. De modo a libertar a alma de tais perseguições espirituais, esses demónios tinham de ser vencidos. Os desejos da carne deviam ser desprezados e ignorados, se possível.”

“Mais tarde os teólogos até debateram se a mulher teria ou não alma. As mulheres, o sexo e até o corpo humano, juntamente com os respectivos prazeres terrestres, eram vistos oficialmente como distracções e tentações que podiam afastar o homem do seu caminho espiritual.”
*

Será que alguma coisa mudou neste último século?
Porquê tanto medo e tanta fúria contra o Código da Vinci ? O por em risco o poder patriarcal pela ameaça do Feminino e a reabilitação de Maria Madalena? Por por em causa o domínio absoluto do homem e do seu Deus ascético e casto?
Quem leva a sério uma mulher se esta não tiver um estatuto social, uma mente racional e uma formação académica patriarcalista?
Por mais que o julguemos e aparentemente menos radicais ainda não alteramos essa visão dualista da natureza e da vida! A Mulher continua a ser a Sombra relegada para o inconsciente...e a “besta” anda à solta...

“O macho ferido brandindo selvaticamente a sua espada não se sente apenas magoado e frustrado, é também perigoso. Quanto mais depressa se unir ao seu oposto feminino perdido, desprezado e repudiado melhor!”*

(...)
“A “besta” é sempre uma ameaça para a “mulher”(Apocalipse 12:6) e a cruz vermelha está associada à sua salvação (hoje continua como símbolo da ajuda e da emergência; os nossos símbolos estão-nos na consciência e reaparecem continuamente).*

(...)
A origem do X vermelho como símbolo pejorativo do material sexual explicito surge, parece, na Igreja invisível do Graal e seus apoiantes. É como se a igreja ortodoxa tivesse associado o X às tentações do pecado “do mundo, da carne e do diabo” - concentrando tudo, como sempre, no oculto e no “sinistro” femininos. Mas o significado arcaico de X, a união do masculino com o feminino numa associação sagrada e igualitária, está inerente à sua própria estrutura: uma combinação (ou “núpcias”) do antigo e V, o cálice feminino e do V (invertido) a lâmina masculina.”*


* In MARIA MADALENA E O SANTO GRAAL
Margaret Starbird

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