O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, julho 16, 2004

RETRATO DA ALMA...(enquanto espera...)

Barry Sharplin
A capacidade de desistência..

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“A capacidade de desistência constitui o único critério do progresso espiritual: é só quando as coisas nos deixam, é só quando as deixamos que acedemos à nudez interior, a esses extremos em que paramos de nos prender a este mundo e a nós próprios, e onde a vitória significa demitir-nos, recusarmo-nos com serenidade, sem remorsos e sobretudo sem melancolia; porque a melancolia, por discreta e aéreas que as suas aparências sejam, continua ainda revelar ressentimento: é uma cisma com o zelo do azedume, o ciúme mascarado de desfalecimento, um rancor vaporoso.

Enquanto permanecemos sujeitos, em nada desistimos de nós, atolamo-nos no “eu”, sem contudo nos desprendermos dos outros, nos quais pensamos tanto mais quanto menos tivermos conseguido desapropriarmo-nos de nós próprios. No preciso momento em que nos prometermos vencer a vingança, sentimo-la impacientar-se como nunca no nosso íntimo, pronta a atacar. As ofensas “perdoadas” põem-se de súbito a clamar por reparação, invadem as nossas vigílias e, mais ainda, os nossos sonhos, convertem-se em pesadelos, mergulham tão fundo nos nossos abismos que acabam por formar a sua fibra. Se assim é, de que serve representarmos a farsa dos sentimentos nobres, apostar numa aventura metafísica, ou contar com um resgate?
(...)
Quanto mais nos ocupamos das nossas feridas, mais elas nos parecem inseparáveis da nossa condição de não-libertos. O máximo de desprendimento a que podemos aspirar é o de ficarmos numa posição equidistante da vingança e do perdão, no centro de um ressentimento e de uma generosidade em igual medida frouxos e vazios, porque destinados a neutralizarem-se entre si. Mas nunca conseguiremos despojar o homem velho, ainda que levássemos o horror por nós próprios ao ponto de renunciarmos para sempre a ocupar fosse que lugar fosse na hierarquia dos seres.


HISTÓRIA E UTOPIA
E.M.Cioran


NOTA À MARGEM:
Se eu fosse minimamente coerente com as notas que transcrevo, nunca mais abria ou escrevia nesta página....mas como já não vejo televisão e recuso-me a ler os jornais...

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