O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, abril 18, 2004

A diferença entre Feminismo e o Princípio Feminino


Ou a importância de um “Feminismo Místico”




"O Vaso da Transformação só pode ser efectuado pela mulher,
porque ela própria, em seu corpo que corresponde ao da Grande Deusa, é o caldeirão da encarnação, nascimento e renascimento. E é por isso que o caldeirão mágico está sempre nas mãos de uma figura humana feminina, a sacerdotisa e a bruxa".
  Erich Neumann



É PRECISO ESTABELECER UMA DIFERENÇA  entre o conceito variegado de Feminismo e deturpado ou relativizado ou mesmo ridicularizado por homens e até mulheres, ao longo de décadas, e a ideia mais recente, mas também mais profunda do Princípio Feminino, que é enorme, pois enquanto de forma geral o feminismo é a luta da mulher e a afirmação dos seus direitos face a uma realidade socia-económica,  política e cultural, de princípio antagónica à mulher e que a explora e abusa há séculos, o Princípio Feminino tem uma dimensão ontológica indo á raiz do Conhecimento do SER MULHER, lendo na essência e não na forma ou aparência das coisas e dos factos. Trata-se de ter conhecimento de uma realidade profunda e de proporções cósmico-telúricas, avaliando a Mulher em si mesma pela  sua essência, a Mulher integral, aquela que procura unir as duas mulheres cindidas pelo mito bíblico que as divide ainda em “santa e puta”, anulando-a como Princípio ou Pólo Complementar do Princípio Masculino. Princípio activo e princípio passivo, positivo e negativo, o Yang Yin das cosmogonias orientais e que representam a dinâmica dos seus dois aspectos, o princípio e fundamento da manifestação da matéria - nascimento dos mundos - e a dualidade da vida que se expressa no SER HUMANO em dois sexos compondo-se exteriormente de duas “metades” complementares. O  que acontece também ao nível interior de cada uma das partes e portanto expresso tanto fora como dentro do indivíduo, tendo como meta existencial o sentido da consumação dos mesmos princípios na união dos dois em Um, macho-fêmea, integração dos dois pólos em si mesmo e que dá a totalidade do SER, onde se dá ou está a completude do indivíduo, na Obra por excelência, representada  no casamento alquímico, homem e mulher, sol e lua,  conforme foram concebidos na encarnação, com papéis diferentes, cabendo à mulher iniciar o homem no amor assim como conceber o filho, fruto dessa consumação.

Porque a Génese foi alterada e pervertida pelos sacerdotes-guerreiros fundadores de religiões patriarcais, para seu interesse e em detrimento da Deusa-Mãe a Mulher foi paulatinamente relegada para um quadro de despromoção contínua no aspecto social-económico ao longo dos séculos nas sociedades antigas, desde há milénios, tendo sido principalmente adulterado o papel de iniciadora do amor da mulher livre para o de prostituta e á da mulher casada como “objecto” de venda e compra das mulheres legitimada pelas suas leis, ao de esposa e mãe, criando uma dicotomia ou cisão na própria Mulher em si, de consequências psicológicas graves com fracturação do seu SER e que a fere de morte no seu potencial cósmico e função iniciadora como mediadora das forças cósmico-telúricas, relegando-a para patamares de subserviência, atribuindo-lhe um lugar secundário a todos os níveis da sociedade e do conhecimento. A mulher não só perdeu o seu Dom inato, como deixou de Ter acesso ao Conhecimento intrínseco do feminino em essência que corresponde à voz do útero, voz mediúnica de sacerdotisa curadora ou maga, Mãe da Humanidade, herdeira de uma autoridade que é compaixão e sentido de Justiça inato. A Mulher é a responsável pela manifestação mas foi condenada ao descrédito pelas sociedades patriarcais que são por sua vez responsáveis pelo caos do Mundo ainda hoje.


ONDE AS FEMINISTAS FALHARAM

Não se trata pois de mais uma vez reivindicar direitos ou lugares na sociedade e na política ou na literatura, mas erguer uma Estrutura Humana inteira a que corresponde uma Nova Consciência do Ser Mulher neste tempo, mas que lhe pertence deste os mais tempos remotos, aspectos que deverão ser consciencializados para voltar a restabelecer o equilíbrio do Mundo. É preciso unir os dois princípios e salvar o Planeta.

Ser feminista já não basta. É preciso Ter uma Consciência Superior enquanto ser iniciada por natureza e que reconquista a sua verdadeira dimensão. Só assim a mulher será Mulher e o Homem será salvo do abismo da separabilidade e caos de um só princípio reinante devastador, a Civilização da Espada, o masculino, que exclui de si e da sua vida o Feminino ou a Civilização do Cálice.

A homossexualidade, variante do conflito dos sexos, definição de um aspecto fragmentário do ser, é um falso problema, nesta perspectiva cosmológica e universal, vendo o Ser Humano na sua totalidade integrada: corpo-alma e espírito - e não nas suas partes constituintes, em separado, ou funções biológicas e orgânicas - pois não faz mais do que acentuar esta dicotomia do ser, invertendo os princípios sem resolver a questão essencial dos dois lados em cada um de nós (macho-fêmea em si foi o Ser Humano criado). Assim a resposta humana à questão sexual é a androginia psíquica e estrutural dos seres ao nível ontológico e não ao nível morfológico e psicológico apenas...
O amor entre os seres humanos não é meramente sexualidade, mas energia quântica que eleva a consciência muito para além do prazer e da procriação. O Amor Humano pode ser iluminação e acesso a outra dimensão, quando vivido e não intelectualizado.

O Ser Humano é chamado neste milénio a viver como um todo indivisível e não como um fragmento de um outro imaginado, não importa que “sexo” represente...
Quando a Mulher for encarada como uma totalidade - não mais dividida em duas - o Homem também A reconhecerá dentro e a sexualidade em si deixará de ser apanágio de uma cultura decadente e promiscua que reinou no obscurantismo e na confusão do “pecado” durante séculos, para se afirmar depois em meio século, numa degeneração e libertinagem que nada tem a ver com a sacralidade do mesmo. Sexo é iniciação ao Amor, não prática desregrada e deslocada do sentido da alma e do coração. Não se ensina a sexualidade às crianças, mas respeita-se a Mulher e a Mãe. Depois a Natureza do Amor encarrega-se do resto. Para isso a sociedade tem de ser equilibrada e harmoniosa o que só se consegue quando Homem e Mulher coabitarem em paz. Para isso tem que abrir-se ao Amor universal cuja Sede se encontra no centro do seu coração. Ouvir o coração é o que nos resta.

rosaleonorpedro

3 comentários:

Astrid Annabelle disse...

"O Amor Humano pode ser iluminação e acesso a outra dimensão, quando vivido e não intelectualizado."
"Ouvir o coração é o que nos resta"
Sempre perfeito...
Eu leio nas suas palavras o meu sentimento, a minha percepção das coisas...
Um beijo
Astrid Annabelle

Vânia disse...

... e ouvir o coracao e o q nos resta... Pq ouvir o coracao e ouvir a Vida.

Unknown disse...

O resgate do princípio do Sagrado Feminino!