O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, março 07, 2004



A IDADE DO OURO

“QUANTO AO Paraíso bem podemos deixar de acreditar na sua realidade geográfica ou nas diversas figurações, nem por isso ele reside menos dentro de nós como dado supremo, como uma dimensão do nosso eu original; trata-se agora de irmos até lá descobri-lo. Quando o conseguirmos fazer,entramos nessa glória que os teólogos chamam essencial; mas não é Deus o que vemos cara a cara, é o eterno presente, conquistado ao devir e à própria eternidade...

A partir daí o que importa a história?

A história não é a sede do ser, mas a sua ausência, o não de todas as coisas, a ruptura do ser vivo consigo próprio; não tendo nós por massa a mesma substância que ela, repugna-nos continuar a cooperar nas suas convulsões. Fica-lhe a liberdade de nos esmagar, mas tudo o que atingirá então serão as nossas aparências e as nossas impurezas, esses restos de tempo que trazemos sempre connosco, símbolos do fracasso, sinais de não-libertação.”




In HISTÓRIA E UTOPIA de Emile Cioran

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