O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, fevereiro 02, 2004


"O verdadeiro pensamento parece sem autor."


"E a beatitude tem essa mesma marca. A beatitude começa no momento em que o acto de pensar se libertou do acto da forma. A beatitude começa no momento em que o pensar-sentir ultrapassa a necessidade de pensar do autor – este não precisa mais pensar e encontra-se agora perto da grandeza do nada. Poderia dizer do “tudo”. Mas o “tudo” é quantidade, e quantidade tem limite no próprio começo. A verdadeira incomensurabilidade ´e o nada, que não tem barreiras e é onde uma pessoa pode espraiar seu pensar-sentir.

Essa beatitude não é em si leiga ou religiosa. E isso não implica necessariamente no problema da existência ou não-existência de Deus.
(...)
Dormir nos aproxima muito desse vazio e no entanto pleno. Não estou falando do sonho que, no caso, seria um pensamento primário. Estou falando em dormir. Dormir é abstrair-se e espraiar-se no nada.
(...)
E acima da liberdade, acima de certo vazio crio ondas musicais calmíssimas e repetidas. A loucura do invento livre. Quer ver comigo? “ (...)


In ÁGUA VIVA de Clarice Lispector

Sem comentários: