O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sábado, outubro 11, 2003

SHIRIN EBADI, Advogada iraniana
PRÉMIO NOBEL DA PAZ 2003



O mundo está mesmo a mudar. Nem sempre para pior.
Foi com profunda alegria que me inteirei hoje que SHIRIN EBADI, uma advogada iraniana de 56 anos, activista em prol dos direitos humanos, acaba de ser nomeada Prémio Nobel da Paz 2003.
É a primeira mulher muçulmana a receber tal prémio (desde 1901,data em que o prémio foi instituído, só 11 mulheres o receberam). Dois outros muçulmanos foram agraciados com o mesmo galardão: Yasser Arafat em 1994 e o presidente egípcio Anwar Sadat em 1978.
O mundo ocidental parece de forma geral ter-se congratulado com este acontecimento, embora por exemplo e surpreendentemente alguém como o polaco Lech Walesa, ele próprio ganhador do mesmo prémio em 1983, tenha ficado desapontado com o facto do Papa não ter sido o eleito. Seguramente que as posições do papa em relação ao controle de nascimentos, sexo antes do casamento, homossexualidade e sacerdócio feminino não serão muito bem vistas na Noruega, pátria do Nobel.
SHIRIN EBADI tem uma longa e nobre carreira em prol dos direitos humanos num país amordaçado como o Irão. Foi a primeira mulher juiz naquele país, tendo perdido esse estatuto em 1979 com a revolução islâmica. Contudo, prosseguiu a sua luta, representando e investigando os casos de escritores e intelectuais, assassinados em 1998 e 1999; como propulsora dos direitos da mulher e dos direitos humanos em geral, defendeu muitas vítimas da violação dos mesmos. Sofreu a prisão e julgamentos parciais à porta fechada. Muitas das reformas que se têm vindo a verificar no Irão devem-se à coragem de SHIRIN EBADI que tem continuado a trabalhar sem medo em prol dos direitos das primeiras vítimas de uma abusiva e fanática sociedade patriarcal, que fundamenta o seu comportamento tirânico na religião muçulmana: essas vítimas são sempre as mulheres e as crianças.

Cantemos SHIRIN e a grandeza do seu espírito, hoje reconhecida simbolicamente pelo prémio Nobel.
Nem todos os dias, há motivo para nos sentirmos apreensivos.
Hoje, por exemplo, aí está mais um sinal da Ordem Nascente!


MARIANA INVERNO
10 de Outubro de 2003

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