O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

quinta-feira, outubro 23, 2003


O Espelho

O espelho reflecte certo; não erra porque não pensa.
Pensar é essencialmente errar.
Errar é essencialmente estar cego e surdo.


Alberto Caeiro



ÁGUA VIVA

Espelho? Esse vazio cristalizado que tem dentro de si espaço para se ir para dentro sempre em frente sem parar: pois espelho é o espaço mais fundo que existe. E é coisa mágica: quem tem um pedaço quebrado já poderia ir com ele meditar no deserto. Ver-se a si mesmo é extraordinário. Como um gato de dorso arrepiado, arrepio-me diante de mim. Do deserto também voltaria vazia, iluminada e translúcida, e com o mesmo silêncio vibrante de um espelho.
(...)
Clarice Lispector

O miroir! Eau froide par l'ennui dans ton cadre gelée
Que de fois et pendant des heures, desolée
Des songes et cherchant mes souvenirs qui sont
Comme des feuilles sous ta glace au trou profond,
Je m'apparus en toi comme une ombre lointaine,
Mais, horreur! des soirs, dans ta sévère fontaine,
J'ai de mon rêve épars connu la nudité!


HÉRODIADE

Que oportunas estas tuas citações sobre o espelho, símbolo ancestral e rico do auto-conhecimento. Nos relacionamentos, o outro funciona como superfície reflectora e, quanto mais límpido e de coração aberto o outro fôr, mais verdadeira será a imagem que de nós mesmos nos devolve. Essa é uma contribuição fundamental para a expansão do conhecimento de nós mesmos. Símbolo lunar e emblema da rainha, o espelho não deve ser partido pois isso significa separação. A nossa Clarice não deveria, em meu entender, ter mandado ninguém meditar para o deserto com um pedaço de espelho quebrado. Descuidos...

Mariana Inverno,
PROJECTO Art for All

1 comentário:

Ná M. disse...

O Espelho

O espelho reflecte certo; não erra porque não pensa.
Pensar é essencialmente errar.
Errar é essencialmente estar cego e surdo.

Alberto Caeiro