O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

sexta-feira, agosto 15, 2003

“Na ilha de Creta, onde a Deusa ainda era suprema, não havia sinais de guerra. Aí a economia prosperava e as artes floresciam”.

In O Cálice e a Espada, de Riane Eisler


A adoração da deusa mãe.


A adoração da Grande Mãe remonta
ao mais recuado dos tempos...


A Grande Deusa era adorada em todo o mundo antes da nossa história e já no Egipto, Isis era a Senhora por Excelência e cuja imagem vem a corresponder à imagem adoptada pela Igreja Romana com o menino ao colo e que por volta do séc. VI - no obscurecimento do seu verdadeiro culto e origem – é reencontrada em Maria, mãe de Jesus, e a liturgia bizantina celebrava a "Dormição da Mãe de Deus" - antes era a Deusa! - Mas por hora ela "dormia" e antes que acordasse eles tomaram conta... Na época, o Imperador Maurício fixou a efeméride para o dia 15 de Agosto e até aos nossos dias ficou assim registado. Através de muitas lutas, e petições, o dogma da Assunção Corpória da Nossa Senhora levou muitos séculos a ser aceite até que no séc. XVIII foi assinada a bula que o admitia, embora a Igreja Católica sòmente em 1950 através do Papa Pio XII a tenha oficializado.


(...) “Mais do que nunca, a Virgem Maria ia tomar o lugar de todas as deusas da antiguidade, suavizando os seus traços, abandonando a sexualidade, mas permanecendo sempre aquela que dá a vida e o alimento”.(...)
Substituindo assim, “uma divindade feminina cuja função materna se desdobrava necessariamente numa função erótica. Sabemos muito bem que essa função erótica iria ser escondida desde o início de um cristianismo inteiramente orientado para uma masculinidade triunfante e uma castidade exemplar, resultante a maior parte do tempo de um terror instintivo relativamente aos mistérios da mulher”

O Arquétipo da Deusa Mãe ressurge pela premência do Princípio Feminino na Terra desvastada pelo poder patriarcal de dominação do mais fraco.

A Festa ou o feriado da Assunção da Nossa Senhora que a Igreja Católica celebrou hoje foi imposta pela tradição ou pela reminiscência do Culto da Grande Deusa muito anterior ao Cristianismo! Assim como substituiu todas as deusas pelo nome de santas para as integrar no catolicismo! Enquanto isso e através dos séculos, as mulheres que tivessem ou ousassem ter voz, eram perseguidas e queimadas vivas como bruxas!

Hoje mesmo ouvi um padre na televisão alertar para o facto porém de que não podemos adorar a Nossa Senhora e que Maria é igual a todas as mulheres...E portanto inferior, deduzo eu. Só podemos adorar a Deus...Um deus macho, está claro...Quanto à irrupção do culto da Deusa surgido em Lurdes e em Fátima e em outros lugares de Peregrinação, e culto recente são também coisas de mulheres devotas...
À partida a Igreja não dá crédito, felizmente, mas acaba aproveitando-se como sempre se aproveitou para continuar a explorar e a manter as próprias mulheres na ignorância! Eles rezam a missa vestidos e com paramentos remanescentes das sacerdotisas da Deusa e as mulheres ajoelham-se a seus pés...Cofessam-se pecadoras...
A igreja nunca foi Mãe para as mulheres, mas sim Madrasta pois só os Homens são filhos do seu Deus...




VEM, DOLOROSA,
MATER-DOLOROSA DAS ANGÚSTIAS DOS TÍMIDOS
TURRÍS-ÉRBURNEA DAS TISTEZAS DOS DEPREZADOS,
MÃO FRESCA SOBRE A TESTA EM FEBRE DOS HUMILDES,
SABOR DE ÁGUA SOBRE OS LÁBIOS SECOS DOS CANSADOS.
VEM LÁ DO FUNDO


Fernando Pessoa


A Grande Deusa

(...) "mas a antiga detentora da soberania sobre o universo, a causa primeira de toda a existência, e isto muito antes da manifestação do Verbo que, segundo o Evangelho gnóstico de João, era no princípio (e não no começo) do mundo das relatividades concretas. A arte da Idade Média é o reflexo de um pensamento e esse pensamento, apesar do peso do dogmatismo romano, está longe de ser unívoco. Mesmo que ela não cesse de ser consoladora, e mesmo lenitiva, a virgem mediaval transmite mais do que uma mensagem, que remonta à aurora dos tempos e que se manifesta por vezes através de especulações ditas heréticas ou mesmo por meio das aberrações fantasmáticas, a saber: o conceito de uma criação permanente que não pode ser senão de natureza feminina. Se Maria foi realmente a geradora do divino enquanto “mãe portadora”, ela apenas podia ser a encarnação de um conceito preexistente que se tornou incompreensível, incomunicável e indizível, que aparece através dos diferentes mitos referentes à criação do mundo."

In "A GRANDE DEUSA " de Jean Markale

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