O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

segunda-feira, novembro 11, 2002




A HISTÓRIA DA ROSA ...

"Sei da história de uma rosa. Parece-te estranho falar em rosas quando estou ocupada com bichos? Mas ela agiu de um modo tal que lembra os mistérios animais. De dois em dois dias eu comprava uma rosa e colocava-a na água dentro de uma jarra estreita para abrigar o longo talo de uma só flor. De dois em dois dias a rosa murchava e eu a trocava por outra. Até que houve determinada rosa. Cor-de-rosa sem corantes nem enxertos porém do mais vivo rosa pela natureza mesmo. Sua beleza alargava o coração em amplidões. Parecia tão orgulhosa da turgidez de sua corola toda aberta e das próprias pétalas que era com uma altivez que se mantinha quase etecta. Porque não ficava totalmente erecta: com graciosidade inclinava-se sobre o talo que era fino e quebradiço. Uma relação íntima se estabeleceu intensamente entre mim e a flor: eu a admirava e ela parecia sentir-se admirada.



E tão gloriosa ficou na sua assombração e com tanto amor era observada que se passavam os dias e ela não murchava: continuava de colrola toda aberta e túmida, fresca como flor nascida. Durou em beleza e vida uma semana inteira. Só então começou a dar mostras de algum cansaço. Depois morreu. Foi com relutância que a troquei por outra. E nunca a esqueci.



O estranho é que a empregada perguntou-me um dia à queima-roupa : "e aquela rosa?" Nem perguntei qual. Sabia. Esta rosa que viveu por amor longamente dado era lembrada porque mulher vira o modo como eu olhava a flor e transmitia-lhe em ondas a minha energia. Inteuira cegamenteque algo que se passara entre mim e a rosa. Esta - deu-me vontade de chamá-la de "jóia da minha vida", pois chamo muito as coisas - tinha tanto instinto de natureza que eu e ela tínhamos podido nos viver uma a outra profundamente como só acontece entre o bicho e o ser humano. "


"ÁGUA VIVA" de clarisse lispector




O FEMININO ESSENCIAL

Estarão as mulheres preparadas para fazer emergir de si o feminino?
Estarão elas preparadas para dar ao tempo uma alma nova
soluções novas para os novos problemas, estarão elas capazes de despertar o feminino no homem
sem o castrar?
Estarão elas capazes de perdoar?


É o lado terrífico da Grande Mãe que vão integrar,
um passado de memorização que vão vingar?
Ou a salvadora, a que perdoa e compreende, a que sabe
que sempre a mulher é o futuro do homem
e o homem o futuro da mulher,
quando cada um deles se esgotar, quando perdidos um do outro
se esquecerem da completude do par.


Quem é a mulher de hoje? Será que sabe o que já foi?
Aquilo que é ou pode vir a ser?
Será que a mulher sabe e aceita o útero como matriz da vida,
princípio que lhe dá forma, alma, razão de ser?


(...)

in OS PORTAIS DO TEMPO

DE aNTÓNIA DE sOUSA

PUBICADO POR: "THE ART FOR ALL - PROJECT"

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