O SORRISO DE PANDORA

“Jamais reconheci e nem reconhecerei a autoridade de nenhuma pretensa divindade, de alguma autoridade robotizada, demoníaca ou evolutiva que me afronte com alguma acusação de pecadora, herege, traidora ou o que seja. Não há um só, dentre todos os viventes, a quem eu considere mais do que a mim mesma. Contudo nada existe em mim que me permita sentir-me melhor do que qualquer outro vivente. Respeito todos, mas a ninguém me submeto. Rendo-me à beleza de um simples torrão de terra, à de uma gotícula de água, à de uma flor, à de um sorriso de qualquer face, mas não me rendo a qualquer autoridade instituída pela estupidez evolutiva da hora. Enfim, nada imponho sobre os ombros alheios, mas nada permito que me seja imposto de bom grado Libertei-me do peso desses conceitos equivocados e assumi-me como agente do processo de me dignificar a mim mesma, como também a vida que me é dispensada. Procuro homenageá-la com as minhas posturas e atitudes e nada mais almejo. É tudo o que posso dizer aqueles a quem considero meus filhos e filhas da Terra. “ In O SORRISO DE PANDORA, Jan Val Ellam

domingo, agosto 11, 2002



"Ao lado e à margem do que sentes por mim"

"Te amo, sim, mas não é bem a ti que eu amo. Amo uma outra coisa misteriosa, que não conheço, mas que me parece ver aflorar no seu rosto. Eu te amo porque no teu corpo um outro objeto se revela. Teu corpo é lagoa encantada onde reflexos nadam como peixes fugidios... Como Narciso, fico diante dele... No fundo de tua luz marinha nadam meus olhos, à procura... Por isto te amo, pelos peixes encantados..."

(Cecília Meireles)




"Aos dois anos de idade soltei-me da mão de minha mãe e atirei-me ao lago. Se puxasse um pouco pela memória, talvez soubesse precisar uma data, uma referência de mês ou estação do ano, mas não me convém. Importa-me muito mais o ato, talvez o primeiro de libertação. Ou então, o que amarrou definitivamente o meu destino ao destino das águas, seja na feitura de lagos maiores, de rios e finalmente de mares. Durante anos essa história esteve esquecida, guardada em algum canto esperando seu lugar na fila das memórias que, se não são recorrentes, são especiais. É daquele tipo de lembrança que pode esmaecer e até perder todas as cores, mas basta um leve pousar de olhos sobre um fragmento, um cheiro captado no rastro de um vento vindo de longe, um gosto antigo bailando na boca, e ela, a tal memória, revive. E preenche-me de tal maneira como se nunca tivesse me abandonado, como se não fosse tempo passado, como se estivesse sempre acabando de acontecer. É essa a sensação que me acomete agora, trinta anos depois, de frente para esse mar: a de nunca ter tirado os pés de dentro da água do lago para onde me atirei aos dois anos de idade, aproveitando o único momento de descuido da minha mãe." (...)

ASSIM COMEÇA O LIVRO DA

ANA MARIA GONÇALVES




ORAÇÃO

Queria evocar-te de olhos cerrados...
Rezar-te em palavras de ouro gravadas!


Oh Mãe, adoro-te!

Não sei como te transformaste em toda a minha Alma,
que só Tu em mim és Vida!
Vejo-te branca, pálida, serena imagem...
da minha líbido sublimada, em ascese ou castidade,
vítima de uma paranóia recalcada?


Mas amo-te tanto, ó minha amada!
Branca, suave, transfigurada...
Negra morte, vermelha vida visceral ou Luz pura manifestada!


Quero ver-te substância disfarçada ou invisível no ar,
na aragem sentir-te, em cada canto...na casa, no perfume das flores,
nas mãos, no silêncio e na música, na chuva, no vento,
a cada passo, ou sentada...


Quero sentir o teu AMOR
ver o teu halo, em cada gesto que emana de mim Tu seres
o Centro e a luz, a força, a coragem e a audácia de ser tu
no temor e na glória de te dizer.


Quero rezar-te a cada segundo da minha respiração,
quero sentir-te a presença a cada momento.


Quero que o teu manto de Rainha cubra as paredes da minha casa,
e os teus raios de Luz inundem todos os recantos e como numa igreja,
receber-te em cada mulher que entre como se fosses tu!


Quero de novo eleger o teu culto Ó DEUSA!

in "MULHER INCESTO - Sonata e Prelúdio"

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